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Cronicas-->Miséria e honra -- 25/11/2002 - 16:01 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Seu Juvenal chegou em casa, fechou a porta e buscou o sofá, cansado da caminhada. Foram dois quilómetros, já que o ponto de ónibus era longe da invasão. Mas não tinha o que reclamar.
Conseguira entrar no terreno há cinco meses, e com a ajuda de vizinhos, juntou tábuas, pregos, lonas velhas e construiu um lugar para morar. Não tinha luz, arranjara um poço, mas não tomava mais chuva e sol todos os dias. Estava melhor ali do que debaixo do viaduto, onde a polícia dizia que era perigoso e retirou todos os moradores.
Juvenal foi durante muitos anos motorista de ónibus, até que um dia seus olhos cansaram, e não pode mais dirigir. Aí teve que mudar de profissão. Foi trabalhar de fiscal, na própria empresa.
O trabalho era chato, arranjou confusão com colegas e saiu em busca de outra atividade.
Descobriu que sua escolaridade era pequena, mas conseguiu emprego de porteiro num prédio de bacanas. O lugar era bom. Às vezes ganhava roupas, presentes, gorjetas, e até manteve um romance com a madame do décimo, cujo marido só se preocupava em ganhar dinheiro. O grande empresário viajava vinte e cinco dias por mês, meio enjoado da balzaquiana, deixando um histórico de carência para Juvenal.
O relacionamento discreto durou até que um outro morador do prédio, com ciúmes, condicionou Juvenal a deixar o emprego em troca de uma denúncia anónima que poria em risco a vida dele ou a da madame.
Triste e sem preparo para uma sociedade mais competitiva, foi catar plásticos, garrafas e outros materiais recicláveis. Quando viu estava sem endereço, jogado sob um viaduto, e com mais de 60 anos.
A sorte foi descobrir que já podia andar de ónibus gratuitamtente, graças à carteira de idoso. Também tinha a vantagem de ser atendido antes nos bancos, nos hospitais públicos e era chamado de senhor. Todos deixavam sentar no banco da frente nos coletivos e esperavam que movesse suas pernas cansadas até alcançar este objetivo.
A grande sorte mesmo é que tinha sido registrado durante muitos empregos, e agora contavam com a aposentadoria do governo federal, que lhe proporcionava quase o mínimo necessário para viver sozinho no casebre.
Juvenal pensou que sua honra de trabalhador não trouxe muita coisa. O melhor período foi quando teve o romance com a madame. Depois, filhos, aventuras, nada tinha para lembrar.
Ouviu um ruído na porta do casebre. Foi atender. O empresário com um revólver na mão. Sem palavras. Morreu na miséria quando o homem rico pensou em honra.
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