Júlia sentou na praia, apreciando a lua, que iluminava a noite de verão. Uma noite agradável pelo vento que o mar trazia, refrescando o verão catarinense.
Alguns surfistas mais corajosos desafiavam a Joaquina sob a luz do luar. Tão grande quanto o sol, a lua dominava toda a paisagem.
Era fim de ano. O último dia do fim de ano. O som do mar quebrando ondas era uma melodia bem diferente do som da serra. A serra estava distante, como o sol, como os amores.
Uma garrafa de champanhe trazida da festa lembrava que o ano tinha muitos dias, muitas semanas, excesso de horas e minutos. Sabia que o tempo era uma medida que não tinha segundos melhores, apenas fragmentos de vida embutidos numa dança louca de emoções.
Os surfistas gritavam uns com os outros, brincando com as ondas. Talvez estivessem namorando as pranchas, falando com seu linguajar diferente.
A lua era a parceira dos aventureiros, cuidando que não faltasse luz para o empreendimento divertido daqueles jovens.
Júlia bebeu um gole de champanhe, visualizou a silhueta do surfista realizando um looping. Aprendera duas ou três palavras próprias da tribo, mas não confiava muito nos adoradores do mar.
Tinha preconceito quanto ao linguajar dos surfistas, considerado muito pobre. Preferia os praticantes do skate, mais radicais, maneiros, maior aí.
Enquanto surfavam os jovens ondas incessantes de pensamentos levam-na ao sul, Porto Alegre. Lembrava de uma prova de wind-surf na praia de Ipanema, seguida do show de aviões acrobáticos e competição de jet-ski. Foi em 1994. Um dia cheio de surpresas.
Foi lá que conheceu Tucídides, estudante de História. Com esse nome só podia estudar História mesmo. Um romance de verão. Terminou porque ele foi embora para a Nicarágua. Queria viver uma experiência socialista.
O vento mais forte trouxe-a de volta a Florianópolis. Ondas quebrando, uma garrafa pela metade. Despejou o conteúdo da garrafa na areia, observando a borbulha. Ficou por lá até que a lua se foi. Com seus pensamentos.