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Cartas-->REPERCUSSÃO AO ERÓTICO "DELÍRIO" -- 15/12/2002 - 06:57 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REPERCUSSÃO AO ERÓTICO “DELÍRIO...”

Após a publicação de meu poema “Delírio de Mãos e Bocas”, recebi algumas mensagens. Uma delas muito curiosa, não sei ainda se de reprovação ou de gozação... Dizia: “Você vai arder no mármore do inferno”... Achei genial e ri muito... Entre as demais, escolhi uma para comentar, por vir de um velho amigo – Croquete, como era carinhosamente chamado -, que não vejo há mais de 15 anos. Mas não a escolhi apenas por questões sentimentais, e sim porque ele me pede um Depoimento que não percebo caber aqui. Bem, respondi a ele, pedi autorização para publicar e aqui transcrevo sua mensagem e minha resposta.

MENSAGEM DE CROQUETE (na íntegra)

Querida Sal.

Quanto tempo faz que não nos falamos. Mas eu não te perco de vista. Leio você sempre e sempre me comovo com as coisas que me falam de perto. Você tem o dom de tocar o coração da gente. E, meu coração que tão bem te conhece sempre se derrete...

Li este teu poema lindo e profundo. Foi feito para um gay, nem precisa dizer. Mais um no seu caminho? Como chama o felizardo? Não foi pra mim, não tive essa sorte. Mas, como gay, venho agradecer. Se eu recebesse um poema desses de uma mulher, e se fosse feito pra mim, nem sei o que faria. Ele não é só erótico, não mexe apenas com nosso desejo sacana... mexe com nossa capacidade de amar que é universal, não interessa o sexo. Esse poema fala de um amor maior que o amor carnal, fala de doação, de abnegação, desse lado grande de você que eu conheço. Imagino a alegria do seu novo amor, que mereceu esse poema. E imagino também o que ele não deve ter dado para arrancar esse poema de você. Desejo aos dois um amor bem curtido e, principalmente, duradouro.

Quero dar uma sugestão. Li aquelas suas cartas-depoimentos. Gostei muito, principalmente da Analfabeta... Você não presta mesmo... Por que você não escreve um depoimento de sua vida com os gays que te amaram? Tive essa idéia ao ver sua poesia. E como eu conheço bem esse pedaço da sua vida, pois ainda morava aí e acompanhei de perto, posso dizer que daria um belo trabalho e que poderia ajudar muita gente, principalmente a vencer o preconceito. Pensa nisso. Se precisar de mim, dou também o meu depoimento, principalmente falando do outro lado, dos que te amaram tão lindamente. Sei de coisas que nem você sabe, pois comigo eles falavam, mas era segredo. Era, hoje não tem mais sentido ser segredo. Lembro-me bem do medo que eles tinham de te perder. Era até difícil de entender, pois alguns eram gays de carteirinha, mas choravam por você. O que você tem, mulher, que eu não tenho? Risos... Por mim nunca ninguém se apaixonou a ponto de chorar... Risos...

Aqui estamos sempre lutando, tentando conscientizar pessoas e vencer preconceitos seculares e tão fortes neste país. Não é fácil. Mas temos visto alguns progressos. Acho que as Paradas anuais ajudam muito. Infelizmente temos ainda que lançar mão disso. Li também o seu poema quando o Edson Néris foi assassinado. Fiquei muito comovido. Não poderia haver um protesto mais delicado e profundo. O que me espanta é que você consegue dizer isso em 8 linhas... Lembra do tempo que você fazia poemas de 3 páginas? Você e o Flávio concorriam para ver quem fazia o maior... Morro de rir hoje quando vejo você falando tudo em 3 linhas... Considero isso um progresso...

Querida, tenho saudade. Como vai a turma do barulho? Tem visto o pessoal das noitadas no Pingüim? Eu, perdido nesta cidade louca, não sei mais de ninguém. Me manda notícias. Qualquer hora eu pinto por aí. E, se você topar, ainda te quero... Ou vai fazer cu doce de novo?... Risos... Diz pro seu amor não ter ciúme, eu sou inofensivo...

Saudades e beijos.

Cleudes – (Croquete)

MINHA RESPOSTA PARA CROQUETE (na íntegra)

Croquete, meu querido.

De fato, quanto tempo! É uma pena que a vida separe assim a gente. Foi uma puta surpresa receber teu email. E, ao lê-lo, quanta saudade senti! Também agradeço por me ler, outra surpresa para mim. Por que não se manifestou antes?

Obrigada pela crítica ao meu poema. Mas não se esqueça: você é suspeito. Pois vejo que ainda guarda recolhida aquela paixão que disse ter por mim. Toma tento, menino, aquilo que sentiu foi só inveja... Estou brincando, mas sempre te levei a sério. Sabe como sempre respeitei essa tua cabeça linda e aberta. E só não te dei a bola que querias porque eras intelectual demais pro meu gosto... te disse na ocasião... rs... Confessa agora: você também chorou por mim? rs... Diz que sim, vá... meu ego tá precisando... rs...

Quando publiquei o poema quase coloquei uma dedicatória: “aos gays da minha vida”. Mas preferi não fazê-lo, deixar como um poema, digamos, bi-sex. Pois tudo que faço com um gay posso também fazer com um hétero e nada muda nada. Mas se vc, especialista na área, determina que ele é gay, deixa ficar gay que isso só me dá orgulho.

Depoimento, Croq, não sei se faria, não sei se é o caso. Eu não iria contar coisas da intimidade, é claro. E contar coisas corriqueiras da vida não caracterizaria o depoimento como vc o pede. O que digo a quem queira ouvir, repito aqui. É que com os gays de minha vida aprendi a conhecer melhor meu próprio corpo. Em geral vocês são mesmo especialistas em corpo, em pontos erógenos, na valorização e na erotização do corpo inteiro. Um dos meus gays, principalmente, como não tinha ereção, me fez perceber que numa relação, a penetração, embora importante, não era o mais importante. E assim fez cair mais uma besteira que estava no meu superego... Por isso sempre achei que vocês também deviam derrubar o preconceito quanto a se relacionar com mulheres, como alguns tinham na nossa turma. (Êta turma do barulho! Não sei como administrávamos tanta confusão...) Além disso, só poderia mesmo afirmar e reafirmar que tenho em alta conta e lembro com muita saudade os gays que me amaram e que eu amei. Claro que tivemos desencontros, mas todos eles têm lugar no meu coração, do mesmo modo que todos os héteros (já pensou a suruba dentro deste meu pobre coração?...). Amores são amores e eu jamais faria qualquer distinção. E acho até que dar depoimento poderia reforçar o preconceito. E a grande luta é por derrubá-lo, nunca instigá-lo. À sua pergunta sobre minhas relações com gays, acho que aconteciam porque eu não tinha o maldito preconceito, naquele tempo bem mais pesado que hoje, falava isso claramente, e nunca me furtei a uma proposta de relacionamento. O Tom (lembra-se dele?) dizia que eu atraía gays e bêbados... Talvez por dar-lhes atenção, nada de especial. Sei que alguns queriam apenas ter uma experiência hétero com alguém em quem confiassem... Nada de errado nisso, pois eu também adorava novas experiências... Sempre aprendia, mesmo quando quebrava a cara... rs...

Não tenho notícias da turma, a não ser uma ou outra isoladamente. Alguns falam comigo com freqüência, me visitam, me telefonam. O Neto (meu mais querido namorado) está feliz, realizado com o companheiro que encontrou. Os dois me visitam de quando em quando. Por sorte, o companheiro dele foi com minha cara e a gente se curte também. Eu festejei esse encontro. Dei até presente de casamento... O Gera está na militância, como sempre. Ele é mesmo incansável e idealista. Comparece a todas as Paradas. Vou pedir que contate você. A maioria foi embora da cidade. Vou esperar que você apareça por aqui. A gente senta, chama um salgadinho e uma cervejinha, bota um som de fundo, e conversa, conversa até não mais agüentar de sono. Era sempre assim, lembra?

Ah, eu sei sim de alguns “choros” por mim... Como o pessoal era muito autêntico, alguns chorões choravam na minha frente... nem sei se não era chantagem... mas choravam. Outros choravam escondidos, mas eu às vezes ficava sabendo... e a fofoca, pra que serve?... Só quero dizer que sempre respeitei o choro (aqui, leia-se SENTIMENTO) de todos. Você me conhece e sabe bem meu modo de encarar com respeito o amor. Aliás, você tem experiência própria: quando me amou nós nos falamos abertamente, nunca te deixei sofrendo sozinho.

Qualquer hora te escrevo pra sessão “saudosismo”... Ah, vai ser bom! Temos histórias para um livro... Relembrar é preciso! Aí a gente discute a velha questão do quer-não-quer... E vamos rir de novo... Não se preocupe com o meu novo amor... ele já não existe (a não ser em meu coração teimoso)... e se existisse, seria no meu esquema de liberdade, lembra? Sem a besteirada de posse e ciúme...

Um beijo, meu querido. Continue me lendo e me escrevendo (e chorando por mim, é claro... rs...). Não fique mais tanto tempo em silêncio. Nossa amizade merece, afinal lá se vão mais de 30 anos...

Sua Sal


28/04/02

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