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Contos-->O caminho inverso -- 05/03/2003 - 15:40 (Mayra Rossini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

- Por favor, por aqui. Eu lhe mostro como funciona.
- O papel passa por este cilindro que vai imprimir a figura que a senhora quiser. Cuidado! Não encoste a mão que está quente!
- Você é muito atencioso, mas por favor não me chame de senhora.
- Tudo bem! Você não tem mesmo jeito de senhora.
- Que bom. Pensei estar aparentando uns 20 anos a mais. Interessante o modo como isso é feito. Já trabalho no ramo há algum tempo e nunca imaginei que fosse feito dessa forma, pois sempre tive acesso ao produto final, que é o que me interessa.

Assim, se conheceram. Numa situação profissional. Conforme o tempo foi passando os encontros profissionais tornaram-se mais freqüentes. Ele sempre muito atencioso, e ela sempre atenta e interessada no que ele dizia.
De repente, sem que percebessem, começaram a inventar assuntos de trabalho para se encontrar e conseqüentemente os encontros passaram a não ser mais profissionais. Conversavam sobre tudo até que ele passou a contar-lhe seus problemas e ela a ouvi-los. Mais tarde, ela contava-lhe sua mágoas e ele as ouvia. Um consolava o outro, ambos tinham problemas sentimentais que era o que mais os incomodava. “Por que era tão difícil ser feliz?” pensavam. Viraram amigos. A amizade durou cerca de três meses e depois ganhou um adjetivo. Virou amizade colorida.
Continuavam se encontrando, conversando, rindo, trocando beijos, ouvindo e escutando. Quando perceberam estavam envolvidos e sentiam falta um do outro. Não havia um dia que não se falassem ao telefone. As conversas nunca duravam menos de uma hora. Quanta coisa pra falar! Passavam juntos parte do dia, e à noite... uma hora ao telefone.
O tempo passou... um ano. O tempo passa... E com que rapidez. Dois anos... a mesma cumplicidade, a mesma vontade de ficar juntos, a mesma conversa ao telefone. Três anos. Tudo acontecia como se fosse a primeira vez: os beijos, os abraços, as conversas, os risos, os olhares. Tudo com a mesma intensidade. Às vezes se perguntavam por que estavam juntos. Ela sempre dizia que era o destino. Que suas vidas estavam cruzadas e que iriam ficar juntos o resto da vida. Ele dizia que não. Era mais racional. Dizia que apesar de toda cumplicidade, de sentirem-se tão felizes nos momentos que passavam juntos, de sentirem falta um do outro, suas vidas iriam se divergir um dia, pois tinham caminhos diferentes a seguir, objetivos diferentes a alcançar. Ela não gostava de ouvi-lo quando ele dizia isso. Mudava de assunto. Dava-lhe um beijo...
Assim o tempo foi passando O “eu te amo” dela chegou primeiro que o “eu te amo” dele, que veio dois anos mais tarde. Cinco anos...
Um dia, repentinamente e sem porquê ele disse que não poderia mais ficar ao seu lado. Ela não entendeu nada. Não compreendia. Parecia estar num pesadelo. Não havia motivo, afinal tinham um relacionamento sadio, sem crises de ciúmes, sem desconfianças, sem cobranças. O que estaria acontecendo?
- Você me ama?
- Amo. Você sabe que amo.
- Então por que não quer mais ficar comigo?
- Quero, mas não posso! Você tem a vida pela frente. Sinto muito orgulho de você, te admiro muito, sinto muito sua falta, mas preciso mudar minha vida e não posso mais ficar ao seu lado. Tenho dez anos mais que você. Olho para trás e não vejo nada. Olho para frente e vejo um abismo, enquanto você vê uma longa estrada a ser percorrida.Vou me casar e recuperar esses dez anos.
As palavras dele entraram em seu coração como uma navalha. Sentiu-se mareada. Não entendia a situação. Ele dizia amá-la e ao mesmo tempo dizia que iria se casar com outra mulher, para poder mudar sua vida. “Mudar o quê?” ela se perguntava. Mais tarde ficou sabendo que a mudança referia-se a dinheiro, a status. Ele ia se casar com uma mulher rica e influente. Isso apertou ainda mais seu coração. Como? Onde estava aquele homem íntegro que ela havia conhecido? Há quanto tempo ele conhecia essa mulher? Quanto dinheiro ela tinha? Quão influente ela era? Por quê? Por quê? Não encontrava respostas.
Nunca mais se viram, o tempo foi passando, passando... como sempre. Seis meses depois, soube do dia do casamento por uma amiga em comum. Contava as horas, os minutos. Agora, o tempo demorava a passar.
Finalmente! Foi ao cabeleireiro logo cedo. Fez uma massagem, tomou um relaxante banho, arrumou o cabelo, fez as unhas, se maquiou. Passou o dia cuidando de si. Parecia até a noiva. Foi para casa e tirou do guarda-roupa o vestido que havia comprado logo após o rompimento. Preto, costas nuas, longo. Sapato salto 7,5. Estava maravilhosa. Sentia-se linda e confiante.
Pegou a chave do carro. Era cedo. Ainda falavam 40 minutos para o início do casamento. “A noiva sempre se atrasa. Vai dar tempo.” pensava. Avistou a igreja. Estacionou o carro. Seguiu em direção as escadarias. Havia muito movimento. Muitas pessoas, muitos carros, alguns amigos. A confusão era grande. Ninguém notou sua presença. Lá dentro, a igreja estava lotada, o noivo em pé no altar. Sentiu como se estivesse frente a um despenhadeiro, pronta para pular. Pensou em desistir, ir embora. Pensou... pensou... pensou. Foi até o tapete vermelho. Agora notaram sua presença. Todos a olhavam. “Quem será?” Outros a reconheceram. “Meu Deus!”. Ele empalideceu e seu coração rufava, pois não a via há algum tempo. “Como está linda!” Não sabia o que pensar. “O que ela está fazendo aqui?” Ela foi caminhando em sua direção devagar, no passo das noivas. Chegou aos degraus do altar e subiu dois deles. Ele desceu um. Olharam-se fixamente, como quando se amavam. Quando ele ia lhe dizer algo, ela tocou-lhe delicadamente os lábios. Encostou sua face na dele, deu-lhe um beijo e disse com a voz suave, baixinho, bem perto de seu ouvido “Eu te amo”. Olhou profundamente em seus olhos, sorriu, virou-se e fez o caminho inverso.
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