Oi, companheiros.
Estou empenhado no estudo e pesquisas sobre a Revolução de 1922. O tema é apaixonante. Acho que mais um ano e estarei em condições de começar a escrever um livro sobre a matéria.
Dentro deste contexto e para entender melhor o seu mais glorioso episódio - o sacrifício dos "18 do Forte" - comecei a buscar informações sobre o Forte de Copacabana.
Fiz visita ao local, consultei documentos etc, mas, como bom infante, tive dificuldade em entender a parte técnica da Artilharia de Costa.
Solicitei algumas informações ao meu prezado amigo e colega de Turma (AMAN/1961) Gen Ex Luiz Edmundo Montedônio Rego, veterano artilheiro de Costa que inclusive comandou a Bateria 305 do Forte.
O Montedônio teve a gentileza de me honrar com um trabalho que satisfez todas as minhas dúvidas.
Dada a excepcionalidade do escrito - algo produzido por quem entende do assunto - de inegável valor histórico e clareza na exposição, tomo a liberdade de repassá-lo aos meus correspondentes selecionados, que certamente o apreciarão também.
No mais, forte abraço do
Juvencio Lemos
REVOLUÇÃO DE 1922
- A - PROLEGÔMENOS
Após ter sido promovido a General de Brigada, em 1993, fui designado para o
Comando da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea -1ª Bda AAAe, com sede em Niterói–RJ
e composta por cinco Gp AAAe “espalhados” pelo Brasil : Rio, São Paulo, Sete Lagoas,
Caxias do Sul e Brasília.
Com a extinção da 2ª Brigada de Artilharia de Costa ( Santos – SP ), em 1992,
a 1ª Bda AAAe herdou as Unidades de Artilharia de Costa remanescentes : 6ºGACosM
( Praia Grande – SP ), 8ºGACOSM ( Niterói – RJ ) e 1ª Bia / 10º GACosM ( Macaé – RJ ) ,
todas dotadas, desde 1960, com canhões móveis Vickers Armstrong de 152,4 mm .
Todos os Fortes e Fortalezas da Artilharia de Costa já haviam sido desativados ou
transformados , caso do Forte de Copacabana em Museu Histórico do Exército( 1986 ).
A sociedade santista não se conformou em ficar sem um Oficial General na
Área e alguns representantes foram a Brasília conversar com o Ministro do Exército,
Gen Ex Zenildo de Lucena : “ Como vamos ficar sem o Comandante da Praça ? ”
( designação tradicional do Comandante da Brigada de Costa na Baixada Santista ).
A solução adotada foi transferir a sede da 1ª Bda AAAe de Niterói para Santos, e lá
fui eu para ser o novo Comandante da Praça em Santos, Praia Grande, São Vicente e
Guarujá ( cidades da baixada santista que possuíam Unidades do EB ) .
Caro Lemos , Você deve estar surpreso e perguntando para os seus botões:
- E daí ? O livro é sobre a Revolução de 1922 . . .
Vou ter que aprofundar mais um pouco para que Você entenda onde desejo
chegar .
Poucos Oficiais da nossa Artilharia tiveram o privilégio de servir na Costa,
na Campanha e na Antiaérea . Sou um desses felizardos , o que facilitou entender
com clareza a diferença entre elas e as principais peculiaridades de cada uma. Na
- 2 -
AMAN, a TARMIL 61 e as Turmas subsequentes tiveram contato apenas com a
Artilharia de Campanha. A EsACosAAe especializava os Tenentes voluntários para
a Antiaérea e ministrava conhecimentos sobre a Costa ( já em marcha acelerada
para a plena extinção ) .
Resumidamente, na Campanha fui Asp Of e 2º Ten no 2º RO 105 ( Itu – SP)
Regimento Deodoro, nos anos de 1962/63 , Capitão Cmt de Bateria, em 1974, após a
EsAO, no 30º GAC ( Niterói – RJ ) e Cel Cmt do 29º GAC ( Cruz Alta – RS ), Grupo
Humaitá, em 87/89.
Na Antiaérea, de 2º Ten a Capitão servi em Brasília, na 1ª Bateria Independente de
Canhões Automáticos Antiaéreos 40 mm ( presenciei a passagem de Comando por
cinco vezes , e nenhum novo Comandante acertou o nome completo da Bateria), de
1963 a 68 e como Gen Bda, fui designado para o Cmdo da 1ª Bda AAAe.
Na Costa, comandei a 1ª Bateria de 305 mm no Forte de Copacabana, 1968/1969, a
Bateria Cmdo do CEP ( encarregada da manutenção dos obuseiros do Forte Duque de
Caxias – Leme – RJ ) e a 1ª Bda AAAe ( com 3 OM de Costa diretamente subordinadas,
como disse no início ) .
Ao assumir a 1ª Bda AAAe , o PC do Comandante era na Fortaleza de Santa
Cruz ( Niterói – RJ ) , que atirou no Forte de Copacabana em 1922 . Acho que Você
está começando a entender porque estou dando esta volta enorme .
A 1ª Bda AAAe executava um Programa de visitação pública que deu certo.
Dezenas de pessoas visitavam as suas instalações, de sexta a domingo, guiadas por
militares muito bem treinados, e ao final ainda ficavam maravilhados com a vista da
cidade do Rio de Janeiro. Nos quatro meses que passei na Fortaleza de Santa Cruz
aprendi muito sobre a história da nossa Artilharia de Costa e também como implantar
o turismo nos demais Fortes e Fortalezas subordinados .
Hoje, a Fortaleza é o 2º ponto turístico mais visitado de Niterói, com mais
de 100.000 pessoas por ano. Soube recentemente. Valeu a pena o “ suor ” !
- 3 -
A transferência da Brigada para Santos foi realizada e o novo PC foi o pior
Quartel que conheci em todos os tempos. A antiga sede foi destruída pela explosão
do Gasômetro de Santos e o que sobrou, um pequeno prédio de dois andares, passou
a ser o novo aquartelamento . O acidente ocorreu em 1967 e estávamos em 1993 .
Há 27 anos o “ Comandante da Praça ” ocupava aquelas instalações. Estava na hora
de encontrar nova morada . Assim, passamos a frequentar a Praia do Monduba, sede
da Bia Cmdo da Brigada e o Forte dos Andradas , em Guarujá – SP . Um ano depois,
conseguimos convencer os escalões superiores ( MINISTRO – EME – COTER – CMSE –
– SEF – 2ª RM – D Patri ) que a solução ideal seria construir a Brigada em Guarujá.
Escolhida a arquitetura do prédio, alocados os recursos financeiros e quase lançada
a pedra fundamental , o Gen Zenildo me fez uma proposta irrecusável : se desejava
comandar a ECEME . Dois anos depois de ter assumido o Cmdo daquela Escola, fui
convidado pelo Cmt da 1ª Bda AAAe, Gen Bda Geraldo Luiz Nery da Silva , para
participar da inauguração do novo Quartel em Guarujá e lá compareci .
Voltemos ao Forte dos Andradas, notável Praça de Guerra, mas que há
20 anos estava abandonado . Com o auxílio da Prefeitura de Guarujá, depois de seis
meses de muito trabalho, abrimos a fortificação à visitação pública. Nesta altura o
Ministro Zenildo já tinha conhecimento do que estava acontecendo e presenteou a
Brigada com dois micro-ônibus zero km para fazer o transporte, ladeira acima, dos
turistas paulistas que, aos sábados e domingos, recheavam as praias de Guarujá e
à tarde não tinham o que fazer. Após intensa propaganda com notícias nos jornais,
na televisão, faixas, panfletos, folders, passamos a ter problemas com excesso de
visitantes. Mais de 500 pessoas em cada final de semana. Treinamos mais guias
( soldados que se candidatavam para a função ), pedimos mais dois micro-ônibus, e
diminuímos um pouco a propaganda .
Idênticas providências foram tomadas pelos Comandantes do 6º GACosM,
Praia Grande- SP ( Fortaleza de Itaipu ), do 8º GACosM, Niterói- RJ ( Fortes Barão do
- 4 -
Rio Branco, Imbuí, São Luiz e Pico ) e da 1ª/10ºGACosM, Macaé - RJ ( Forte Mal
Hermes ), para implementar o turismo nas fortificações subordinadas .
Como Comandante da Brigada, me senti na obrigação de acompanhar
todo o empreendimento e de aprender bastante a história daquelas fortificações.
Em 1994, iniciou-se a visitação nos Fortes e Fortalezas mencionados.
Depois do Cmdo da ECEME ( 3 anos ) fui designado para a Diretoria de
Especialização e Extensão- DEE. Das 14 OM subordinadas, 2 eram responsáveis
pela manutenção de fortificações : o CEP ( Forte Duque de Caxias ) e o CCFEx
( Fortaleza de São João ) . Após 4 meses de treinamento do pessoal, a cidade do
Rio de Janeiro passou a ter mais duas fortificações como atrações turísticas. A
Escola da Artilharia de Costa e Antiaérea também era subordinada à DEE.
Este relato teve como objetivo me posicionar perante o companheiro ,
recordando o assunto com o qual estive bastante envolvido, embora em época bem
diferente. Em 1922, meus pais tinham apenas 5 anos de idade e acho que ainda não
se conheciam.
- B - DADOS DE INTERESSE
Antes de responder às suas indagações, convém recordar alguns pontos.
- Diferença entre Forte e Fortaleza : FORTE – é composto por uma ou mais Baterias
de Artilharia localizadas na mesma fortificação . Exemplo : Forte de Copacabana
( 1914 ) – as 1ª e 2ª Baterias de Canhões ficavam no mesmo conjunto arquitetônico.
FORTALEZA – é composta por duas ou mais Baterias localizadas em fortificações
distintas e com intervalos entre elas . Exemplo : Fortaleza de Itaipu ( 1905 ), Praia
Grande – SP – possuía 3 Baterias ( Duque de Caxias, Gen Rego Barros e Jurubatuba)
em locais diferentes.
A Revoltas da Armada em 1891 e 1893 foram as responsáveis, no meu
entendimento, pela construção de diversas fortificações no Rio de Janeiro e em
São Paulo, no início do século passado .
Em 1908, o Exército Brasileiro iniciou uma grande reforma ao término do
governo de Floriano Peixoto. Os Ministros da Guerra, Gen João Nepomuceno de
Medeiros Mallet e Marechal Hermes da Fonseca foram os responsáveis pelo
reaparelhamento dos Fortes e Fortalezas mais antigos e inclusive a construção do
Forte de Copacabana. O local era ideal para posicionar canhões de longo alcance.
Não devem ter sido consideradas as repercussões negativas da futura demolição
da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana que funcionava ali desde o século XIX.
Em 28 de setembro de 1914, era inaugurada a mais moderna e a mais poderosa
praça de guerra da América do Sul. A finalidade do Forte era compor o sistema
defensivo da cidade do Rio de Janeiro e de seu porto, impedindo a aproximação de
navios estrangeiros que pudessem ameaçar a Baía de Guanabara.
A 1ª Bateria de Artilharia Independente de Posição ( 1ª denominação do
Forte de Copacabana ) era composta por :
- Cúpula Duque de Caxias, com dois canhões Krupp de 305 mm ( Barroso
e Osório ), com alcance máximo de 23 km e giro de 360 º .
- Cúpula André Vidal, com dois canhões Krupp de 190 mm, alcance máximo
de 18 km e giro de 360 º .
- Duas Torres ( Antônio João e Ricardo Franco ) com um canhão Krupp de
75 mm cada uma, alcance máximo de 7 km e giro de 180 º .
- Projetores ( holofotes ) para visão noturna do mar e do espaço aéreo.
Obs : Não sei quando o material passou a ter nomes e nem quando a Bia
de Projetores foi incorporada ao Forte.
- Gerador Diesel para serviço no interior da fortificação e que, devido a
sua elevada potência, iluminava também algumas ruas próximas ao Forte, no tempo
que o Rio de Janeiro utilizava postes com lampião a gás .
- 6 -
O material era proveniente da Alemanha e foi desembarcado em um cais
especialmente construído na entrada da fortificação. Um guindaste elétrico de 80
toneladas facilitou a retirada dos 5000 volumes remetidos pela Casa Krupp.
Dentro do Forte não se via o mar. Daí a necessidade de serem construídos
Observatórios, com vista para as águas das praias de Copacabana e de Ipanema.
Eles ficavam na elevação mais próxima do Forte, o Morro do Cantagalo, com mais
de cem metros de altura.
Um fato pouco conhecido : quem limitou o gabarito dos prédios de Ipanema
( 6 andares ) e de Copacabana ( 12 andares ) foi o Exército Brasileiro. A observação
dos navios inimigos e dos tiros disparados pelo Forte ficaria prejudicada se esses
gabaritos fossem ultrapassados. Constatei pessoalmente esta limitação na primeira
vez que subi o Morro para verificar a manutenção e limpeza dos Observatórios da
1ª Bateria de Canhões 305 mm, sob meu Comando em 1968/69.
- C - TENTATIVA DE RESPOSTAS ÀS SUAS INDAGAÇÕES
1ª Resposta – A Artilharia de Campanha bate zona e não ponto ou alvo. Afirmação
correta. Para a Artilharia de Costa e também para a Antiaérea o conceito muda. Elas
têm que atingir um alvo ( navio ou avião) para cumprir a missão . É difícil acertar os
alvos, principalmente os mais velozes e os que estejam muito afastados. O que vai
concorrer para o cumprimento das missões é o adestramento da tropa, a qualidade
e a quantidade do material e o preparo dos Comandantes nos diferentes escalões.
Exemplo : Na Novembrada, 11 Nov 1955 , o Cruzador Tamandaré atravessou e saiu
da Baía de Guanabara e 12 disparos dos canhões não conseguiram acertá-lo.
2ª Resposta - O tiro na Artilharia Antiaérea é sempre horizontal ( tenso ) e dado por
canhões. Na Costa e na Campanha o tiro pode ser dado por canhões ( horizontal )
- 7 -
ou por obuseiros ( horizontal ou vertical ). Visivelmente, o que distingue o material
é o tamanho do tubo. Os obuseiros têm o tubo menor e, em consequência, menor
velocidade inicial do projetil. Assim, o tiro vertical é menos preciso que o horizontal
e é utilizado quando há uma massa cobridora ( elevação ou obstáculo ) protegendo
o alvo.
Exemplo : A nossa Artilharia de Costa era dotada, na grande maioria, de canhôes.
Mas possuía também os seus obuseiros. Bias de obuseiros Krupp, de 280 mm, a 4 pç,
cada uma, alcance de 12 km, guarneceram o Forte dos Andradas ( Guarujá – SP ), o
Forte D. de Caxias ( Leme, RJ ) e o Forte São Luiz ou Pico( Niterói – RJ ).A construção
destes Fortes foi feita em elevações para protegê-los dos fogos dos encouraçados e
e destroyers inimigos, para obter observação privilegiada do mar e favorecer o tiro
vertical em navios inimigos protegidos por ilhas marítimas, como as situadas no
litoral de Niterói : Mãe e Menina, em frente à Praia de Camboinhas.
3ª Resposta – O alvo em movimento é mais difícil de ser acertado, até mesmo por
um tiro de fuzil ( tiro horizontal ). Para isso, a Câmara de Tiro ( Central de Tiro da
Artilharia de Costa ) calculava os dados e fornecia para as peças os elementos de
tiro do ponto futuro, aquele em que o projetil e o alvo se encontrariam . Convém
recordar que as fortificações foram construídas para atirar em navios inimigos, em
movimento, e não em instalações fixas, como por exemplo o Palácio D. de Caxias,
ou o Forte do Leme, ou mesmo o Forte de Copacabana. Se por um lado, é mais fácil
atingir as instalações mencionadas no primeiro tiro, não haveria Observatórios para
fazer a correção para os tiros subsequentes, uma vez que eles estavam voltados para
o mar. A missão principal dos observadores era ver o “ splash “ ( ponto em que a
granada batia no mar), para ter uma referência , poder fazer as correções e enviá-las
para a Câmara de Tiro. Os tiros dos canhões eram dados primordialmente para atingir
- 8 -
os cascos dos navios. Atingir um convés era muito mais difícil.
4ª Resposta – Sobre a consulta de Tenentes do Forte de Copacabana ao professor de
Balística ( Mosquitinho ), fato que desconhecia, devemos considerar que, em 1922,
o Forte tinha apenas oito anos e que de 1914 a 1918 as atenções estiveram voltadas
para o desenrolar da 1ª Guerra Mundial. Não houve tempo para disseminar a cultura,
o conhecimento, para que considerável número de oficiais e sargentos soubessem
operar a Câmara de Tiro e como atirar com o novíssimo material que acabava de
ser instalado no Forte. E quem sabia, estava em condições emocionais de atuar ?
Tinha coragem para atirar em instalações nacionais ? Era também revolucionário ?
Na Revolução de 1922, o Forte, denominado “ 1ª Bateria Isolada de
Artilharia de Costa ” ( 1919 – 1931 ), era comandado pelo Cap Euclides Hermes
da Fonseca, filho do Marechal Hermes , idealizador da construção daquela praça de
guerra .
Dos 301 amotinados no Forte, nem todos eram Artilheiros de Costa, a
começar pelo Ten Eduardo Gomes, que era da Escola de Aviação Militar ( passando
para a FAB, com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941 ) . Após o intenso
bombardeio da Fortaleza de Santa Cruz sobre o Forte, o Cap Euclides e o Ten Siqueira
Campos sugeriram que quem desejasse poderia deixar o Quartel : ficaram apenas 29,
entre Oficiais e Praças. O Cap Euclides, em seguida, saiu do Forte para negociar e foi
preso . Restaram 28 revolucionários . Logo, caro Lemos, qualquer “ Mosquitinho” que
estivesse disposto a ajudar, seria bem-vindo.
5ª Resposta – ( ligada à anterior ) – Não basta registrar a alça e a derivada que esteja
em uma tabela para acertar um tiro de Artilharia ( Campanha , Costa ou Antiaérea ).
Um alvo a 5, 10 ou 20 Km de distância não será atingido se houver um vento moderado
perpendicular à trajetória do projetil e a Câmara de Tiro ignorá-lo, ou se um soldado
trocar a carga, ao preparar o estojo da granada .
- 9 -
Vamos lembrar, em situação de paz, quais as providências a serem
tomadas para a efetivação de uma Escola de Fogo do Forte de Copacabana :
- informação aos escalões superiores sobre a realização do tiro ;
- informação aos Fortes e Fortalezas do Rio de Janeiro sobre a Escola de Fogo ;
- solicitação de interdição do espaço marítimo à Marinha do Brasil ;
- solicitação de interdição do espaço aéreo à FAB ;
- solicitação à Marinha do Brasil de um rebocador para tracionar o alvo ;
- aviso aos moradores da redondeza, com antecedência, para na data de realização
do tiro abrir as janelas para evitar o rompimento das vidraças e alerta quanto ao
toque de sirene antes do 1º tiro . A Avenida Atlântica foi inaugurada em 1906 e o
Hotel Copacabana Palace em 1923.
- aviso aos pescadores do Posto 6 quanto à realização do tiro ;
- interdição de espaço terrestre na frente ao Forte, para segurança de pedestres ;
- ocupação dos Postos, no Morro do Cantagalo, pelos Observadores, que torciam
para que o mar não estivesse agitado, para poderem ver todos os “ splashs ” e fazer
as devidas correções para o próximo tiro ;
- solicitação de dados sobre as condições meteorológicas para a Marinha, FAB e a
Institutos Civis ( temperatura, previsão de chuvas, direção e velocidade dos ventos,
umidade do ar, ressacas, horários do nascer e por do sol , náutico e terrestre ) ;
- lançamento de balões para calcular a direção e velocidade dos ventos antes do
início da Escola de Fogo ;
- montagem de andaimes próximos ao Forte para observação dos tiros mais curtos ;
- previsão de combustível para os geradores de eletricidade para iluminar e ventilar
toda a fortificação e facilitar a operação das cúpulas e de seus canhões ;
- verificação da temperatura da pólvora ;
- instrução básica e de qualificação para todos os militares que fossem participar da
- 10 -
Escola de Fogo, principalmente os integrantes da Câmara de Tiro e os Observadores.
Obs: Como tive que evocar o passado para relacionar estas providências, pode ser
que tenha esquecido algo importante. Mas Você saberá preencher as lacunas . . .
É claro que em combate alguns passos poderiam ser abreviados e até
mesmo suprimidos. Porém, se fossem queimadas muitas etapas, os navios inimigos
não seriam atingidos. E, em 1922, atiraria na Fortaleza de Santa Cruz e acertaria no
Forte do Leme. Uma suposição. A propósito, em 05 Jul 1922, o Forte de Copacabana
acertou 2 tiros no Forte do Leme que atingiram a muralha, o Refeitório de Oficiais e
a “ Casa da Ordem ” , matando 4 Soldados e ferindo outros 4 . ( Jornal Gazeta de
Notícias, de 08 Jul 1922). E quem atirou no Copacabana foi a Fortaleza de Santa Cruz.
Talvez tivessem esquecido que as paredes da casamata de concreto do Forte tinham
12 metros de espessura.
6ª Resposta – As tabelas de tiro das peças não continham derivas e alças. Elas eram
calculadas pela Câmara de Tiro em função dos dados enviados pelos Observadores,
pois dentro do Forte não se via o mar e, em consequência, a posição dos navios dos
inimigos ( ou da nossa Marinha de Guerra ) . Resumindo : se a Câmara de Tiro não
estivesse guarnecida, o tiro não poderia ser realizado - era ela que fornecia as derivas
e as alças para as peças,em função da direção e da distância em que se encontravam
os alvos a serem atingidos, além da carga a ser utilizada e o tipo de munição mais
apropriado para a ocasião ( perfurante ou explosiva ). As condições meteorológicas
impunham correções a serem calculadas pela Câmara de Tiro nas derivas e alças
comandadas para as peças , principalmente a direção e a velocidade dos ventos.
A localização de prédios na cidade do Rio de Janeiro poderia ser feita por
levantamento topográfico . Seriam atividades “ extra-classe”, pois os Fortes e
Fortalezas foram construídos para atirar em navios inimigos. Já toquei neste assunto.
- 11 -
Estou repetindo porque é bastante importante para o tema que Você selecionou para
elaborar um excelente livro.
7ª Resposta – Tendo a localização do Palácio Duque de Caxias na prancheta de tiro e
disponíveis os dados das condições meteorológicas não é complicado acertar o alvo.
O complicado vai ser obter correções para os tiros subsequentes. Onde estariam
localizados os Postos de Observação ? Se houvesse um erro crasso de cálculo ou
no registro nas peças, o 1º disparo ( 2 tiros ) poderia cair na Igreja da Candelária . E
não havendo correção, por parte dos Observadores, a Igreja poderia ser destruída.
Obs: Para equilíbrio da Cúpula,os 2 canhões sempre atiravam em rajada, com ínfimo
intervalo entre os dois tiros.
8ª Resposta – Os canhões de 75 mm poderiam realizar o tiro contra embarcações
inimigas. Não tinham condições técnicas para realizar o tiro terrestre, pois o giro de
suas torres era limitado a 180º , diferente dos canhões de 190 e 305 mm que giravam
360º. Como uma granada de 305 mm pesava mais de 400 kg, pode-se inferir a despesa
para o EB em qualquer Escola de Fogo. Assim, os canhões de 75 mm serviam para o
adestramento inicial das guarnições das peças. Em suma, eram bastante utilizados
para a instrução da tropa até estarem aptas para atirar com os canhões de 190 e de
305 mm. A observação dos tiros também era facilitada, pois o alcance máximo dos
canhões de 75mm era de 7 km.
9ª Resposta – Estive à testa da 1ª Bateria de Canhões 305 mm do 3º G A Cos – Forte
de Copacabana em 1968/69 e era uma “ glória ” comandar os canhões de maior
calibre da América do Sul, mas que infelizmente não atiravam . A maresia corroeu
o êmbulo do freio recuperador dos canhões e se eles atirassem, corríamos o risco
de não “ voltarem em bateria” . Ainda tentei , junto ao Arsenal de Guerra do Rio ,
resolver o problema, mas não era viável economicamente e a Artilharia de Costa
- 12 -
fixa já estava com os dias contados . Não tenho certeza quando os 305 mm deixaram
de atirar. Algumas publicações dizem que os últimos disparos do F. de Copacabana
foram em 11 de novembro de 1955. Não está correto, pois em 1968/69 presenciei dois
disparos ( 4 tiros ) dados pelos canhões 190 mm, da 2ª Bateria, durante a realização
de uma Escola de Fogo . Houve um incidente com uma peça chamada detonador –
reforçador e as granadas saíram dos tubos desintegradas , inutilizando as raias dos
2 canhões de 190 mm . Acho que a partir daquele momento, aí sim, o Forte não mais
atirou.
O Forte do Imbuí, em Niterói, possuía uma Cúpula parecida com as do
Forte de Copacabana, mas os canhões eram de 280 mm .
Estive em todos os Fortes e Fortalezas mencionados neste “ trabalho ”,
sendo que em alguns, inúmeras vezes . E conheci outros, no Rio e em Salvador. Não
tenho notícia da existência de outros canhões de 305 mm em território brasileiro.
Apenas os do Forte de Copacabana , respondendo à sua pergunta .
E justamente por serem os únicos, o Forte de Copacabana alcançou ,
no meu entender, o prestígio, a admiração, o fascínio que ostenta até hoje.
- F I M D O A N E X O -
|