O veludo das poltronas aconchega os que, na ansiedade do último instante, sentam-se tímidos e silenciosos. O som do sinal para o início do espetáculo prolonga-se na perfeição da acústica do ambiente requintado. Um rumor de saias, virar de cabeças e as luzes apagam-se. O silêncio é total.
A cortina abre-se vitoriosa e bela. Uma salva de palmas saúda o maestro que adentra garboso, esvoaçante, seguido pelo grande astro da noite, o solista de violino, que é recebido pelo público em pé. Após os respectivos cumprimentos, tudo volta à calma. O maestro levanta a baqueta e o primeiro acorde do Concerto em Sol Maior Número 3, de Mozart, é sentido nas fibras de cada pessoa. Não há movimento na platéia. Só os músicos são os donos dos gestos. A melodia embriaga os presentes, torna-se ópio a bailar nos corpos e almas, deixando embaçada a visão quando a pupila é umedecida pelo orvalho da sensibilidade.
Na segunda fileira, um rosto jovem sorri. Seus olhos fixos nas mãos do violinista parecem perseguir algo que não pertence à pauta. Desligada do maestro, da orquestra, acompanha somente a virtuosidade do grande solista. Sorri. Até lágrimas afloram nos olhos brilhantes. Discreta as enxuga e continua sorrindo. Só rindo.
Acabado que fora o espetáculo, os aplausos estrondosos pareciam o ruído de uma grande cascata. Exímia apresentação! E a jovem ria mais à vontade agora. Sua mãe, implicada pergunta:
- Por que tanta alegria?
- Imaginei o tempo todo por onde andam as mãos dos solistas. Aqui, um excelente violinista, o dedo na exatidão das cordas, com rapidez e maestria. Em casa, o mesmo que executou perfeito "pizzicato" é enfiado nas fossas nasais. O mínimo, que consegue o mais agudo dos sons, estará tirando cera do conduto auditivo. A mão, que solene comanda o arco com maestria e rapidez, estará coçando o ...
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