Viajar por Brasília é poesia, aliás, uma longa poesia de imagens entrelaçadas que nascem, diariamente, entre ruas e avenidas inventadas, entre monumentos e entrequadras, entre espirros e enxurradas, entre chuvas de gotas violentas e seca azarada.
Neste caminho foi traçada a trilha imaginária da vida que vive Brasília e aquela que morre com orgulho.
Brasília inventa um azul-ferrete na noite vazia quando a lua escapa à sua perspicácia. Brasília é a dona do céu e escolhe a cor que quer, às vezes de abraço do sol, às vezes de lua qualquer. Brasília veste a lua e a enriquece, a entremostra, a engole, a esquece. Por vezes, apaga o sol com uma nuvem trivial, por vezes o liberta e acalora seu ninho imortal.
Brasília é o lago oceânico das coisas perdidas, a briga do sotaque, a lembrança dos estados, a criança entre velhos que alimentam seu cuidado. Brasília é uma nação que acordou nua e hoje ambiciona as roupas esquisitas da indiferença.
Brasília é o drama da comédia, a realidade do poder, a tesoura do prazer. Brasília é um conto, uma paródia, os traspés que o escritor não vê. Brasília inventa o clima, já não sabe o que fazer e desenha um frio inverno contrapondo um eclíptico entardecer.
Brasília é mulher, mas não uma mulher qualquer. É amor, ódio, inveja, um sentimento qualquer. |