No quadro de avisos, só se falava em "Tempestade Cerebral". Fiquei curioso. Seria possível o Dom Kleenex ter parido um texto bom? Fui verificar.
Pieguice. Escancarada. Minha primeira impressão a respeito do texto. E não é pra menos, afinal: "DEUS me faz chorar..., meu amor, relegado a segundo plano ante as dificuldades mundanas, ressurgiu para me redimir, e eu chorei..., eu choro só de pensar em Chopin, com aqueles seus dedos ágeis deslizando genialmente sobre as teclas e blá, blá, blá..." Tá, eu também gosto de Chopin, também procuro algum tipo de amor, e também tenho preocupações que me levam a especular a respeito da idéia de divino, mas pra que ser tão chorão?
Mas eis que de repente, começo a perceber autenticidade naquelas palavras, e como uma semente que brota, como uma erva daninha que ocupa seu espaço entre a grama num paraíso de artificialidade, essa autenticidade acabou por apoderar-se da fala do autor, revelando à minha mente a extensão da angústia que se escondia por detrás da pieguice. Ante tal cenário de desespero, ante esta verdadeira tragédia do cotidiano, devo confessar que chorei. Aponto o dedo para meu próprio peito e confesso a quem quer que seja: EU CHOREI!
Chorei pois a humanidade estava salva! Chorei, pois pela primeira vez encontrava um Dom Kleenex de carne e osso, que deixava transparecer algo de sua identidade secreta por entre as rotineiras verdades absolutas comumente proferidas pelos super humanos e pelas máquinas escrevinhadoras programadas para vencer. Chorei pois mesmo este autor, em geral pouco capaz e discutidor de pequenezas, se mostrava, no fim das contas, motivado por algo mais do que o interesse em seu próprio umbigo. Fiquei comovido. Chorei.
No fim, a surpresa. O texto estava assinado por um professor de filosofia. Mas mantenho a esperança de não ter derramado minhas lágrimas em vão. Acredito firmemente que o tal professor é na verdade o alter-ego de Dom Kleenex. Se não for, me resta o consolo de saber que se encontra entre a obra tediosa de Kleenex na usina ao menos um texto relativamente bom.
|