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Contos-->SAUDADES DE LIANE LIANE -- 20/08/2000 - 12:26 (LEE ANDERSON) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Texto publicado originalmente no fanzine eletrônico
OgdenZine #61
<< ogdenzine@yahoo.com >>


[[ saudades de liane liane ]]


De repente subia na árvore. Passo por passo, mão após mão, num processo lento e meticuloso, ele subia na árvore.

Pra dizer a verdade, não sabia bem porque o fazia, já que não queria colher nenhum gato suculento nascido no topo dos galhos, tampouco salvar alguma fruta que por acaso tenha-se perdido ou qualquer outra coisa assim – subia, apenas, acometido por um desses instintos súbitos que vezqueoutra enchem-nos a cabeça e fazem saltar os olhos.

Sequer verde era, a árvore – o marrom enegrecido estendia-se pelo velho tronco até alcançar as folhas apodrecidas; nem azaléias tinha, nem amoras avermelhadas nem casas de joão-de-barro – alguma inscrição de amor cravada com um canivete, talvez, mas disso já não lembrava.

Não era alta, a árvore. Porém, verdade é, também, que afrouxou a gravata e descalçou os pés antes de meter-se no ato – no entanto, fê-lo apenas para seguir com alguma regra desapercebida que não se impunha em livro descolorido algum. Ou seja: de um modo ou de outro, lá estava, logo depois, o João no seu pé-de-feijão sem gigantes ou ovos-de-ouro. Nem feijão, eu acho - mas ele também não se chamava João. E, talvez por isso, ali no cume daquela segunda-feira-faxes-&-mails, fim de tarde, estirado naquele galho fitando as nuvens dissipando-se em meio ao azul demasiado do céu, lembrando-se ao acaso daquela música lenta do Dilan, dos olhos cheios de lágrimas e tesão das prostitutas na Oswaldo Aranha, suicidas no Parque Farroupilha, roques e carreiras longas sobre o tampo frio de mármore, masturbações ralas, olheiras fundas, telefones ocupados, telhados de barro entrecortando a paisagem além das janelas - talvez por isso tenha sentido o gozo queimando dentro dos pulsos e diluindo-se ao redor do sexo até integrar-se aos olhos enquanto o anjo beijava seus lábios e mergulhava dentro de seu peito. Talvez por isso ele tenha assobiado um blues frenético e sussurrado um verso sem rimas enquanto o verme metia-se fundo dentro de sua barriga multiplicando-se por todo o corpo.

Ao começo daquela noite um joão-de-barro trouxe o primeiro grão para a construção de sua casa e o amoldou sobre o colo do rapaz, sem sequer perceber que ele não fazia parte da árvore - ou fazia, talvez, agora que um garoto desapercebido riscava lentamente seu corpo com um canivete enferrujado - saudades de Liane Liane.
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