Um medo estético, aprumado e itinerante. Incapaz de verbalizar coerentemente as sensações sem um tema. Incapaz mesmo de definir satisfatoriamente um (único) tema. E os relatórios intermináveis sobre os meios possíveis de se chegar ao objetivo primário? E as explanações irredutíveis sobre a imperativa necessidade de se ter um objetivo? Como se caso não o tivéssemos não fôssemos mais ou menos! ou fôssemos, e isso fosse, em si mesmo, algo ruim. Alinhavar, essa é a meta. A propalada coerência é comprovadamente uma fraude. Uma impossibilidade tão grande quanto a própria cognoscência plena e infinita. Tão grande quanto a própria apreensão quantitativa das acepções da língua sem parâmetro de comparação. Pois é isso a vida que vivemos. Ou algum ser pensante percebe o universo como algo mais que um tiro no escuro?
A beira do desespero, me ajoelho e rezo. Ou contemplo. A beira do precipício, com uma manada de rinocerontes em meu encalço, me resta voar. Aproveitar a queda, a degeneração. Mesmo o fim da última chama da esperança do orgulho de lutar. Morrer é devaneio apenas. Outra convenção.
Quando roubaram seus sonhos, não recrudesceu. Nem se defendeu. Foi roubado apenas. E contentou-se em sentir a sensação, apreciar sua nova condição de lesado. Não se preocupou com Platões, ou Aristóteleles, ou Protágoras. Nem mesmo a Socrática poderia abalá-lo, visto que não a conhecia. Nem mesmo sabia que em momento algum sequer chegaria a conhecê-la. Apenas se divertia com as poli-facetas divididas em multi-primas que-se-lhe apresentavam.
No entanto... No entanto havia algo, um pairar constante e inacessível, uma necessidade de prumo, rumo, e sentido, que precisava ser satisfeita, mesmo que a custo de verdades inatingidas. Pobre de si, que nunca alcançaria! Relevou. Resignou. Conformou-se. Cabeça erguida, abriu mão de mais estes sentimentos. A verdade valia mais, mesmo não existindo.
Escrever e esquecer. A rotina débil e vaporosa daqueles que faziam o que estava a fazer. De resto, os mestres que morressem! Como se não pudesse prover-se de seu próprio vazio!