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Contos-->A Vaga -- 08/03/2003 - 16:22 (ARTHUR ACCIOLY PEREIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Vaga


Madrugou como de costume. Fez a barba, deu uma geral no rosto. Vestiu sua melhor calça e camisa. Calçou seu melhor sapato. Combinou cinto com sapato, meia com camisa e saiu. Saiu de casa à procura de um emprego. Saiu com seu melhor sorriso estampado na face.

Passando pela rua todos o cumprimentavam. Era bom dia pra lá, “ooopa” pra cá, um “como vai” para os menos chegados. Chamavam-no carinhosamente de “nosso vereador”, não pelo cargo que ocupava, pois estava desempregado, (vereadores são muuuito bem empregados ) mas sim pelo fato de conhecer praticamente metade de toda população local.

Era uma pessoa muito querida nas cercanias de onde morava. Geralmente encabeçava campanhas de doação de alimentos, de prevenção de doenças. Era um ser humano extraordinário. Poucos ou nenhum inimigo, muitos amigos. Nunca estava de cara feia, era o “boa praça” do seu conjunto residencial de periferia.

Continuava a caminhar e que alegria sentia no coração. Aquele dia poderia ser um dos melhores dias de sua vida, um emprego era a coisa que mais almejava nos últimos tempos, se sentia incapaz por não estar trabalhando, sentia-se improdutivo no sentido mais amplo da palavra.
– Logo eu! – sou disposto, forte, um homem que nunca parou de produzir, de ajudar este país. Mas não desanimava, o fato de estar desempregado só o fazia ter mais vontade de vencer na vida, logo ele que já passara dos 40 anos.
Se o perguntassem qual sua idade, responderia com um sorriso meio atravessado no rosto, não de constrangimento mas de triunfo. De papel 46, de coração 15. Desse modo levava sua vida

Treinava balbuciando algumas palavras que achava serem apropriadas na hora de sua entrevista na empresa. Afinal deveria estar pronto para responder com brilhantismo e segurança qualquer pergunta que lhe fosse feita; hoje em dia não basta apenas se ter um bom currículo, é preciso comunicar-se com desenvoltura, isto faz a diferença, principalmente quando se trata de uma entrevista! E não seria um palavrinha à toa que poria por água a baixo seu grande sonho.

Nosso amigo atravessava as favelas que cercavam seu conjunto residencial. Não parava de acenar um só minuto. Entrava e saía de vielas, becos, estreitos. Subia e descia pequenas ladeiras. Depois de alguns minutos de caminhada chegou a avenida principal.
Vislumbrou ao longe, o grande prédio da empresa. Sua futura empresa! Uma alegria tomou conta do seu coração, teve vontade de apressar o passo, correr! Queria chegar lá o quanto antes.
– Bem, pensou, se correr vou chegar naquele prédio parecendo um maracujá de tão amassado, melhor é ir devagar.
De meio em meio metro dava uma conferida na sua gravata, olha para o bico dos sapatos para ver se continuavam com o brilho da engraxada que deu a pouco. Mas tudo era perfeito, tudo parecia perfeito.

“Às 7:30h da manhã de hoje, três pessoas foram mortas e duas feridas em um conturbado acidente de carro na avenida sul. Duas delas foram arremessadas para fora de um carro que estava sendo perseguido pela polícia municipal pois estava servindo a assaltantes de banco que acabaram de cometer mais um assalto. A outra vítima fatal era João da Silva, 46 anos, que foi atingido na cabeça, por uma bala perdida no momento do tiroteio.”

Lá estava ele, o “nosso vereador”, na foto, em um canto acanhado de um jornal menos importante da região todo amassado.
Sujo, sem sapatos, uma meia vermelha, a outra branca, despenteado, sem o seu sorriso no rosto.
Envelhecera 31 anos. Muito velho para arranjar algum emprego hoje em dia.

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