Hoje, em verdade, há alguns minutos atrás, esbarrei a vista na hediondez extrema do mau uso da Língua Portuguesa. Sob um artigo publicado em Bravo! On Line a respeito do filme Madame Satã destacava-se como primeiro comentário os dizeres de Érica Jacqueline. Nele, Érica tentava expor a sua opinião politizada sobre a película de Karim Aïnouzm.
A mim foi-me impossível terminar a leitura das poucas linhas que escreveu a moça, de forma que abstenho-me da análise do conteúdo destas linhas. No entanto, os erros esdrúxulos de Português, a agressão descomedida à nossa língua, são de forma tal gritantes que me é possível especular - com grandessíssima segurança - sobre a pobreza de conteúdo e crítica do comentário.
Os deslizes - se é que podemos chamá-los assim - ortográficos e gramaticais presentes naquele texto são tão primários e infantis que revelam a completa deficiência literária - tanto na escrita quanto na leitura - do autor. De onde, então, vem a bagagem necessária à crítica tecida a uma obra aparentemente complexa e que requer, pelo que pude ler a respeito, - não tive ainda a oportunidade de apreciá-la - um certo background que remete à s décadas de 20 e 30? Tenha sido, talvez, através da Rede Globo.
A juventude brasileira vem ultimamente questionando o valor da Língua Portuguesa. O ponto advogado é que o que importa é a recepção acertada de exatamente o mesmo conteúdo transmitido, e não o modo e o meio como isso é feito. Contudo, a complexidade do modo e do meio de tranmissão de uma mensagem é diretamente proporcional à complexidade do seu conteúdo. Conteúdo simples e pobre é facilmente compreendido pelo receptor mesmo com o uso de canais deficientes. Conteúdo complexo, como uma crítica a uma obra cinematográfica, requer, por outro lado, canais mais complexos, o que significa, no caso do meio escrito, uma erudição maior no escrever, uma liguagem mais rebuscada, mais bem estruturada.
O brasileiro lê pouco, e lê cada vez menos. Resultado é que o Português está sendo maltratado e depreciado com o passar do tempo. Mais, o conteúdo presente nos processos de comunicação está empobrecendo; o senso crítico está sendo atrofiado. Por fim, o poder das indústrias televisiva e rádiodifusora de massa está crescendo assustadoramente, em detrimento da literatura, do cinema, da música (como forma de arte, é importante que se diga), do teatro...
Enfim, animei-me à escrita deste texto avassalado pelo desànimo e pela tristeza nascidos da amostra concreta que propiciou-me Érica - que não tenha-me como carrasco; esta amostra é apenas o sintoma de uma doença seríssima que vai além do seu e do meu domínios - da depredação que sofre a nossa belíssima Língua Portuguesa. Não sou melhor do que ninguém, nem sei tanto dessa língua, e, portanto, meu objetivo não é julgar ou agredir alguém. Érica apenas me serviu de incentivo e motivador à expressão de todo o meu pesar e preocupação com a sobrevivência da língua e com a capacidade crítica da juventude brasileira. |