Senta-te aqui ao meu lado. Não precisas dizer nada.
Nada precisamos fingir, senão deixar que a chuva
Ensope e purifique as nossas almas despidas.
Vês aquela árvore frondosa?!
Que vai e vem à melodia da vaga?!
Um dia, fora apenas uma semente.
Amanhã em seu lugar erguer-se-á um monumento
E ninguém mais há de lembrar a sua existência.
Entrelacemos as mãos, enquanto as temos
A vida, - como o vento, a chuva, a árvore...
É única e eterna, na brevidade do seu tempo.
Sintamos o cheiro suave da terra molhada.
Brindemos com a inconstância
Os nossos gozos inacabados
E com o silêncio, a mentira desse instante
Pois, tudo o que somos, sentimos ou tocamos
É apenas ilusão. A vívida ilusão dos nossos sonhos
Corporificada no delírio existencial de cada ser.
A chuva vai passar, logo se fará noite
As estrelas encherão de luz as nossas retinas
E nos farão acreditar na possibilidade do existir.
porém, tudo o que foi, não mais será
Senão remotas lembranças da nossa saudade
Na sua marcha em vão, ao encontro do nada.
São Paulo, 20/03/2003 João Nery
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