Recordo com nostalgia os natais da minha infância. O convívio com familiares (alguns que só via nessas ocasiões), as refeições melhoradas e os doces. A pressa de ver chegar a hora para abrir os embrulhos que continham os presentes. Alguns por vezes já anunciados, sobretudo da parte dos familiares com quem vivia. Outros constituíam uma surpresa total.
Com o avançar dos anos, mudaram os cenários, as prendas e muitas das pessoas presentes, mas era sempre uma data desejada e apetecida.
Haviam também os natais da escola, dos amigos e, mais tarde, da vida militar, do desporto e do emprego. Muitas das vezes, senão todas, nem condiziam com o dia de Natal, esse estava reservado para a família. Eram sempre, no entanto, festas para recordar.
Há mais de meio-século, foi o nosso casamento. Os locais iam mudar e o leque de intervenientes também. Os rituais, no entanto, seriam os mesmos. A ansiedade, a alegria e o convívio continuavam a ser os tradicionais.
Mais tarde veio a filha, para seguir as pisadas dos pais e tudo recomeçar. Casamento, nova família e… apareceram os netos. O mundo, entretanto – apesar do seu perpétuo movimento – quase que parava naqueles dias para festejar o nascimento do “Menino Jesus”.
Participei em natais com presépios, com pais-natais ou com pinheiros natalícios (o mais frequente), mas com estes símbolos ou não, o principal era o convívio.
O povo, na sua infinita sabedoria, costuma dizer que «não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe». Com a partida da minha companheira de dezenas de natais foi-se a ansiedade, desapareceu a alegria e foi-se o sortilégio. Ficou a nostalgia, restou a tristeza e apareceu o desejo de que o dia passe depressa. Sinto-me só, mesmo quando acompanhado. Falta-me a outra asa para voar e a alma gémea para sonhar.
O tormento só acabará quando chegar a minha vez. No entanto, não posso dizer que desejo a morte. Muito pelo contrário, apesar de tudo, eu gosto de viver. O Natal para mim tornou-se, porém, um paradoxo vivencial. Muito sinceramente, desejo a todos, este ano e sempre, um Feliz Natal!
Era costume ler-lhe o que escrevia, para ter a sua opinião. Agora…
NB – Menção Honrosa no 22º Concurso Internacional de Quadras Natalícias – 2017 (Fuseta)