Usina de Letras
Usina de Letras
307 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62171 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50575)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O LIVRO XIS -- 15/03/2003 - 00:54 (ademar ribeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O LIVRO “XIS”

Conto de Ademar Ribeiro

Nem bem o meu livro “Xis” inaugurava o seu estratégico ofício, indigitando ao frêmito e ao rubor seus primeiros leitores, e, logo, eu saía pregando um exemplar dele embebido em sal em cada uma das cruzes dos postes das ruas, como esconjuro, para que ficasse bem revelado antes de ser esquartejado, já prevenido de outras inconfidências, pela saga de Tiradentes e da minha própria irmã desencarnada às esconsas pelas forças das trevas, feitiços para-oficiais, legiões de demônios e afins, justo quando se abalançava a um grande vôo na carreira literária, e concluindo que tais demônios rondavam de preferência a excelência dos textos nascituros, de insuspeitada vanguarda, e, ainda mais, depois que os originais do meu “Xis” foram arrebatados da pasta por inopinada ventania, suas folhas remoídas pelos carros e pedestres, na lama do asfalto, e depois de recolhidas, restauradas e, em parte, reescritas, e de providenciado que estivessem sempre comigo e a salvo, à mão e à vista em todas as horas dos dias e das noites, até o prelo, dediquei afinal a raridade à memória da minha irmã, em despique tardio aos espíritos imundos que a trucidaram, registrei o título “Xis” no notário local da comuna, e com o meu verbo mexendo, engatilhado nas mãos, eu deslizava, célere, pelas ruas, pelas caladas, ora como num filme plácido, de câmeras potentes, dependurando, confortavelmente, sem me demover, um a um meu livrinho nas cruzes dos postes das ruas, cobrindo em um ai inúmeros quarteirões, os bairros inteiros e toda a cidade, ora num outro filme pueril, de norte-americanas catástrofes, desbaratando monstros caricatos que me rilhavam os dentes e atravessando “tsunames” que se abatiam sobre mim, até chegar de novo, incólume, ao reduto das praças e à tertúlia das livrarias, com meu livro “Xis” causando muito zunzum, tititís, não tanto porque parecesse um negro ou um índio morto, dependurado por toda parte, balançando nas cruzes dos postes das ruas ou porque estivesse indiscretamente exorcizado com as marcas d´água do sangue das cinco chagas de Cristo, mas porque sacolejava a cidade como se fosse o primeiro míssil afinal devolvido da pacificíssima Rússia, tudo isso de estranho e semelhante ao de cujo conforme, tintim por tintim, escutei da minha irmã em seu leito de morte a me cantar, inclusive, nomes, apelidos e escalões de alguns bruxos da cidade, seus locais de sabás, o que devo escrever para imobilizá-los e do quanto e de como podem ser perigosos esses demônios literatejantes, o que por mim, solenemente, ouvido e anotado, levarei a cabo na hora oportuna, porque comigo, maninho, maninha, te juro, a escrita vai ser diferente.

( ademaribeiro@uol.com.br )

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui