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Cronicas-->Preocupado com Filhinho -- 09/12/2002 - 13:52 (Aruanã Bento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Chegou a criança em casa com bolas, sacos e cestas . Vinha do aniversário da prima onde comeu de batata frita a maçã do amor e - como sempre - pós tudo pra fora. Sua alimentação cheia de vontades não podia ser considerada modelo. No meio das miniaturas e balas de coco, entre seus pequenos e gordos dedinhos a surpresa: um aquário. Apenas peixinho e pedrinhas, tão encantador quanto sua indisfarçável alegria ao me mostrar o bichinho. Puseram-no em cima do microondas, bem de frente para a mesa de jantar. Logo revi minhas experiências com animais e classifiquei raça - molinésia -, habitat - água corrente e destino: morreria em dois dias. De manhã, mãe e filha correram para contrariar as previsões, trocaram a água do peixe, já batizado de Filhinho, compraram comida, redinha e produtos para tirar o limo, tudo malocado no armário entre as xícaras e sachês da avó. Dedicação homeopática, toda hora uma tarefa diferente, lembrava até as tentativas de salvamento de baleias. Foi a diversão do domingo.
Com o corre-corre da semana ninguém teria tempo para bajular o Filhinho, no máximo uma troca d´água de manhã, então ficou sob a responsabilidade da criança o cumprimento do cronograma. E o fez com esmero apesar de seus 4 anos de idade, passaram três dias e o bicho não apresentava o menor indício que iria bater as barbatanas. Na madrugada, após o assalto ao presunto e ao queijo, fui olhá-lo com mais carinho. Era uma boa tê-lo por ali, estava sempre de olhos abertos para qualquer movimento além de ser uma companhia discreta de todas as horas, a água amarela sinalizava que não tinha sido trocada, mas ele não estava nem aí, me olhava tranquilo pelo vidro, parecia até que estava rindo. Me aproximei e de fato ele ria, só não mostrava os dentes porque não os tinha. Um sorriso despachado de satisfação. No outro dia foi a vez da família rir de mim. Ninguém acreditou. Olhei para ele, na água limpa, e estava totalmente imparcial, fingindo não ser com ele. Enfiei o dedo na água sob protestos afugentando-o para o cantinho e mesmo assim continuava lá com a mesma cara. Fiquei encucado. Será que minha afilhada estava adestrando o peixe? Será que estava doente? Recomendei que trocassem sua água por filtrada, afinal o cloro da CEDAE já tinha feito estrago em estómagos sensíveis, quem sabe não era uma paralisia? Já tinha esquecido do assunto quando cheguei em casa e Filhinho girava como motoqueiro no globo da morte, era tão rápido que a água fazia rodamoinhos de liquidificador. Foi parando devagar depois que percebeu a luz acesa e ficou no mesmo lugar que estava na primeira noite rindo pra mim. Peixe debochado e maluco, enquanto eu me preocupava com a sua integridade física ele ria de tudo. Catuquei-o de novo com força e dessa vez fui ignorado pela sua pose estática.
Pouco mais de dez dias, a novidade já tinha perdido a graça e o peixe havia crescido muito, triplicou de tamanho, nem cabia mais na mãozinha da dona. Sua beiçola também acompanhou o espichamento, agora ficava pendurada. Procurava ignorá-lo, passei dias levando o lanche para o quarto até o dia que fui a cozinha no escuro e ouvi um glub, glub meio estranho. Filhinho estava estrebuchando na água amarelada, se sacudia todo e batia a cabeça no fundo espalhando as pedrinhas... de repente parou. "Caramba, o Filhinho morreu" - pensei. Em consideração à criança, corri para salvá-lo e só depois de muito tempo na água limpa o molinésia voltou a sua inexpressiva normalidade. Mas tinham comprado galão de água filtrada para ele, então não podia ser isso. Só no trabalho atentei para uma resposta, clara e racional. Era a radioatividade do microondas que estava entortando-o e a água amarela era sua decomposição. Coitado dele. Fiz até carinho em suas mini-escamas, devia ter tumores por dentro, o fim estava bem próximo. Passou os dias seguintes em cima da geladeira, recebendo todas as regalias de um condenado. Ainda assim ria bonito, esticando os olhinhos e arreganhando a beiça o quanto podia, mas era só se distrair que ploft ele pulava no chão . Passei a noite equilibrando o PH da água, estando tão indisposto de manhã que faltei todos os compromissos. Bem cedo minha avó prometeu um cházinho para me deixar melhor. E foi daí, após o primeiro gole, que entendi tudo. Nem água, nem adestramento, muito menos radiação, minha afilhada trocou os frascos e enquanto minha avó se enbebedava duas vezes ao dia com chá de plàncton, Filhinho estava viciado em erva cidreira. Esclarecida a confusão agora a preocupação é outra, acho que minha avó anda demorando demais no banho...
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