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Artigos-->MENORES SUSTOS, MAIORES INDIGNAÇÕES -- 22/04/2002 - 08:42 (inacio loiola) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Inacio Loiola





Lendo o Caderno B do Jornal da Cidade de terça-feira dia 09 de abril próximo passado, me deparei com um artigo que me chamou a atenção em especial logo pelo título : MENORES ASSUSTAM COMERCIANTES ( por Ivaldo José da equipe do JC). A matéria começava assim: “Apesar dos programas instituídos pela Secretarias Municipal e do Estado de Ação Social no intuito de retirar os menores das ruas de Aracaju, muitas crianças ainda são vistas perambulando pelas ruas e cheirando cola”. Me detive um pouco, li mais de uma vez e tentei descobrir, através da manchete e depoimentos feitos, o que havia de perigoso naquelas crianças e o que elas estavam fazendo ou seriam capazes de fazer para causar tanto susto.



Passei a examinar a foto (de Jorge Henrique) que ilustrava o artigo com interesse e vi apenas um menino numa praça qualquer, afastado de tudo e de todos, de pés descalços, usando um calção e com uma camiseta enrolada nos braços, meio desajeitado, figura esquelética, de costas, inclinando-se em direção ao chão tentando apanhar alguma coisa. Coincidência ou discrição do fotógrafo querendo preservar a identidade do garoto ?



O que me chamou mais a atenção na postura daquele menino foi a impressão de estar com fome pela magreza aparente. Ele foi fotografado num momento de solidão absoluta, não havendo nenhum outro garoto ao alcance do recorte feito pelo fotógrafo. ”Eles andam por ali à luz do dia”, acrescenta a matéria. Quisera que todos os que nos assustam, sobretudo nossos inimigos andassem por aí à luz do dia, para que pudéssemos reconhecê-los e nos precaver. A ironia de tudo é que passando os olhos por este mesmo caderno, a manchete sobre os menores torna-se insignificante diante de outras que citarei apenas os títulos, pois dispensam quaisquer comentários:



1. GASOLINA ADULTERADA É VENDIDA EM SE – Agência Nacional de Petróleo recolheu 54 amostras no Estado: oito apresentavam irregularidades;



2. DORES PODE TER MATADOURO INTERDITADO – É a segunda vez que o local onde são abatidos 300 rezes por semana chama a atenção do Ministério Público.;



3. OITO PESSOAS VÍTIMAS DO TRÂNSITO;



4. POUSADA NO SANTOS DUMONT É ASSALTADA;



5. COROA DO MEIO – DUPLO HOMICÍDIO SEM SOLUÇÃO;



6. TRANSPORTE – 53 ÔNIBUS ASSALTADOS ESTE ANO.



Por incrível que pareça, depois de ler cada uma das matérias acima, constatei que nenhuma delas foi protagonizada por um daqueles “menores” assustadores. Todas elas tiveram como autores e atores, pessoas adultas que “não assustam tanto”, incluindo alguns policiais, que “não assustam nunca”, pois garantem tão somente a segurança de nossa comunidade. Ah, antes que me esqueça, duas das matérias envolviam menores, sim, como vítimas. Vítimas do sistema, da falta de um lar estruturado, da falta de emprego para os pais, da falta de uma escola em condições de absorvê-los, da falta de condições e preparo das pessoas e das instituições que cuidam delas e destas questões.



Alguns meninos e meninas sobrevivem fazendo pequenos serviços, como engraxates, vendedores de balas, adesivos e outros objetos nos lugares públicos e em frente aos semáfaros. Existem entre eles trombadinhas ou menores infratores de alta periculosidade de quem são da mesma forma vítimas. Mesmo assim a indignação deve ser ainda maior do que o susto. E o meu susto só é ainda maior por perceber que perdemos todos a capacidade de indignação e não conseguimos mais nos sensibilizar com a miséria humana estampada no rosto de algumas pessoas que desfilam nas ruas de nossa cidade.



Gostaria que esse quadro mudasse e a matéria fosse reescrita da seguinte forma: “Apesar de todas as dificuldades, as Secretarias Municipal, Estadual e Federal de Ação Social, Entidades de Classes, ONGS, Empresários, Comerciantes e a Sociedade em geral encontraram uma saída para os problemas que afligem os menores e resolveram deixar as crianças nas ruas porque agora elas podem ser vistas felizes brincando e/ou participando de projetos educativos, artísticos e culturais promovidos para a sua interação social, formação de caráter, incluindo-os na história como cidadãos construindo uma sociedade onde ninguém assusta ninguém”.



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