Foi: Pá...Pá...Pá...
Paulo Nunes Batista
Foi, quando prenderam o Mané
O da Fulo, cabra macho dos seiscentos diabos,
(coragem ali era de mais da conta)
ele não arresistiu. Disse:
- Entrego as armas de fogo.
- Desvisto a camisa
- E fico só de peixeira.
- Quem for home, entre!
- Cambada de macacos do gunverno.
- Eu não tenho medo nem de Lampião!
- Mande esse ta de gunverno vir brigar comigo!
- Nada de tiro! Explosão
- É só na mansidão da peixeira
- Leve lá peque cá
- é pá e pá
- é pá e pá
- vapt vupt os cós
- das calças amarradas num nó cego.
Ave Maria, coroné, Minha Nossa, seu capitão!
Mane Fulo de peixeira na mão calosa contra
Trinta meganhas armados de metralhadoras...
E Mané: Esta terra é minha, seus ladrões do gunverno.
Daqui só saio morto. Meu corpo
É terra e fica aqui.
Mas minha arma vai continuar lutando
Inté que um dia a terra seja
De quem nela trabalha!
E foi só trrrrá – terá
Ta-tá-tá-tá... tará r tá!
Mais de cem tiros num corpo já morto
Tanto era o medo
Da macacagem e seu donos
De que Mané Fulô se alevantasse de repente
E com a lâmina afiada da peixeira
Cortasse as amarras do latifúndio
E esbagaçasse os nós
Do poder capitalista
Que paga os soldados e suas armas do Cão
Para matar os homens
E as Fulôs da Vida!
Anápolis, 19/08/97.
Notícia Rápida sobre Paulo Nunes Batista:
Paraibano radicado em Goiás (Anápolis), morou em cerca de vinte cidades do Brasil, inclusive nas maiores capitais (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, além de Goiânia e João Pessoa), exercendo atividades desde cobrador de ônibus, trabalhador braçal até jornalista e professor, sendo aposentado do Fisco de Goiás, onde ingressou por concurso público.
Militou no PCB de 1946 a 1952, época em que foi preso político em São Paulo, como redator que era do diário HOJE, arbitrariamente fechado por um IPM. Nunca foi torturado, mas assistiu à tortura de preso quando de sua outra prisão, em Recife. Como jornalista vem denunciando e protestando contra sevícias a presos, políticos ou comuns. Vem há muitos anos publicando artigos, crônicas, reportagens e poesias na imprensa de Goiás, do Brasil e de Portugal.
PNB é autor de seis livros e mais de 140 folhetos de cordel, editados a partir de 1949. Em 1961 tornou-se espírita e vem colaborando na imprensa doutrinária desde então. Tem vários outros livros prontos para publicar (O Cordel Iluminado, Cantos de Pedra e de Flor etc) e continua produzindo. É formado em Direito.
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