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Contos-->Casa das Lembranças -- 23/08/2000 - 00:25 (Isis Vidal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A porta se abriu.
Os sons do vento que se fazia presente por entre as frestas do madeiramento da casa, cantavam suavemente em assobios uma canção à encantar a tempestade que iluminava os céus escuros da noite alta. As árvores frondosas que dividiam o jardim elaborado em esculturas de roseiras e azaléias, sombreando um colorido subjetivo hipnótico pela mistura de aromas daquelas flores ornamentais. As pequenas lamparinas luziam trêmulas ao vento mostrando os pequenos redemoinhos formados com as folhas secas mescladas entre o castanho e o vermelho, em muitos tamanhos e formas diferentes.
Por entre os pequenos losangos dos vitrais via-se um belíssimo cenário tempestuoso a formar-se lá fora, cuja melodia sombria dividia espaço com os compassos precisos do pêndulo dourado de um grande relógio, imponente no centro da sala; como se observasse a todos os acontecimentos de nosso curto tempo de vida, mantinha-se imparcial a registrar em badaladas a contagem regressiva do corpo, e a progressiva da alma. À sua frente, sentava-se um senhor de certa idade, que olhava fixamente para a movimentação da sombra do pêndulo naquele tapete lindamente trabalhado de rosas e arabescos em tons castanhos e esverdeados.
Naquela atmosfera hipnótica, percebia-se apenas a respiração tranqüila daquele homem que se abstraia profundamente, deixando-se levar pelas histórias das sombras que dançavam contentes a cada clarão azulado de relâmpago que se pronunciava, tornando majestosos todos aqueles pequenos objetos da sala que se dispunham ordenadamente nas mesinhas redondas de mogno, entalhadas artisticamente. A fotografia em preto e branco de uma moça pálida e tristonha, com os cabelos negros brilhantes a cair-lhe pelos ombros nus, dominavam-lhe olhar vazio, perdido na dança das sombras.
De repente levantou-se para arrumar as toras incandescentes de madeira que haviam caído enquanto queimavam na lareira. Apenas nesse instante é que foi possível ouvir o estalar de brasas antes inexplicavelmente inaudíveis. A cada movimento cuidadoso de suas mãos, ele observava as muitas cores das chamas consumindo os pedaços de cipreste, cuja seiva perfumavam toda a sala. Sentou-se no mesmo lugar após deter-se por instantes na janela, deixando-se observar pela chuva que molhava seu olhar distante de lembranças inesquecíveis.
Novamente o som das brasas cessaram e ouvia-se apenas o compasso marcante do relógio. As figuras distorcidas pela luz das chamas, ficavam incógnitas ao dançar das sombras fugidias, que corriam por entre um olhar e outro, aproveitando de alguns minutos de distração para acompanharem a valsa dos segredos de tantas vidas que vêem passar.
Um ranger de tábuas chama atenção para escada com alto corrimão de madeira escura, todo trabalhado com detalhes dourados. Ainda imóvel, o homem deixa-se emocionar, segurando fortemente o braço em veludo verde daquela cadeira de grande espaldar, enquanto uma lágrima escorre por seu rosto. Acompanhando atenciosamente os passos leves vindos da escada, que harmonizavam com o final da tempestade, ele espera agora de olhos fechados com tristeza inigualável à tomar-lhe a expressão.
Aquela linda jovem da fotografia, toca levemente seus cabelos grisalhos, de deixa que a manga de seu vestido azul acaricie seu rosto marcado pelo tempo. Como um ritual necessário, ela caminha pela sala, tocando nos móveis e objetos ao alcance de suas mãos delicadas; abre uma caixinha de música, que completa então a magia daquele momento.
Ao som daquela música delicada e nostálgica, ela estende seus braços para ele que finalmente abre os olhos e respira fundo, levantando-se em sua direção. O relógio então marca uma hora exata e comemora em badaladas o encontro da vida e da alma, em lembranças e novidades, no mesmo instante a melodia da pequena caixa de música termina.
O pêndulo reinicia sua contagem, naquela sala vazia. O céu se abre em magnífico luar repleto de estrelas...
Qual será a próxima vida, a esperar por suas lembranças?

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