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Cronicas-->A PERNA DO PAULO -- 11/12/2002 - 06:55 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A PERNA DO PAULO

Paulinho é um amigo querido. Está sempre por aqui, nos damos bem, dedicado e leal, sempre me ajuda.

Foi sempre um bom garoto, esforçado, aplicado. Bem cedo começou a trabalhar, era arrimo de família. Família simples, nem pequena nem grande, mas sempre precisando de mais um trocado para a bóia melhorzinha, para um conforto justo e maior. E Paulinho não se fez esperar: arrumou emprego e botou mãos à obra.

Um dia, a tragédia. A máquina traiçoeira enlouqueceu e sobreveio o acidente. Correria, resgate, hospital. Quando acordou, o susto: faltava-lhe uma perna. Começava o calvário: a recuperação lenta e complicada, ficar sozinho no hospital alimentando pensamentos dolorosos, o medo do futuro, o desejo de morte brigando com a fome de vida.

Voltando para casa, a luta pelos direitos, provado que nem culpa sua houvera na triste ocorrência. Aprender a andar numa só perna não foi tão difícil, mas foi deprimente. A solução era apelar para uma perna postiça. Havia muitos tipos no mercado, próteses de todo jeito e de todo preço. Experimenta uma, experimenta outra, a cada qual uma série de provas e de ajustes. E quase nunca dava certo, machucava, soltava, não era firme e se transformava em novo perigo. No meio de tudo isso, a recuperação do que lhe sobrou da perna atingida, infecções, curativos, novas e inúmeras cirurgias. Mas Paulinho decidido e corajoso. Acabou descobrindo que tinha direito à melhor prótese conhecida no seu caso e partiu para a luta. Que tinha direito era certo, mas infelizmente em nosso mundo não se ganha um direito de graça e sem briga. Algumas promessas frustradas, outras quase cumpridas, até o dia da conquista final.

Aquela prótese era garantida, o ideal em seu caso, valia lutar por ela. E afinal chegou o dia: estava pronta a perninha. Viaja pra cá e pra lá, experimenta, ajusta, experimenta de novo e de novo, de novo e de novo ajusta... parecia sem fim... Depois a fisioterapia para aprender a andar, a postura e os cuidados com a prótese. Mas o fim também chegou e Paulinho desfilou de perna nova.

Telefonou e veio me ver: queria me apresentar a novidade. Quando chegou, andando quase normalmente, eu me assustei. Disse de cara: "Mas que perna é essa que é postiça e é melhor que a minha?" rs... Pois era mesmo. Quis ver de perto. Ele ergueu a perna da calça e me mostrou. Ora, ver só não bastava, eu queria pegar. E foi grande meu espanto ao tomá-la nas mãos: era uma perna bonita, poder-se-ia dizer perfeita. A barriga da perna de um material que ao toque parecia pele. E era macia. Acariciei-a e quis comparar com a outra, a natural. Comparei. Voltei a acariciar a nova e, olhando firme pra ele, disse: "Paulinho, essa perna me deu tesão!"

O leitor está rindo? Pois quem estava presente, inclusive o orgulhoso dono da perna, explodiu em gargalhadas! Eu ri também quando me recompus do susto de ter falado o que falei... Ah, minha espontaneidade! Tudo muito inocente... rs...

Depois disso, a perna do Paulinho virou o centro das atenções, não por ser postiça - uma prótese como se diz pomposamente... -, mas por ser gostosa. E é responsável por nossas mais alegres risadas, gozadores que somos. Paulinho às vezes fica constrangido porque ninguém liga para sua outra perna, aquela que nasceu com ele e aguenta firme ali na hora de andar, subir escadas, entra e sai de ónibus, alcançar o telhado para arrumar a antena... e, o pior, ela aguenta sem reclamar o pouco caso que a gente faz dela... E Paulinho faz de tudo, nada é desculpa quando se trata de topar um trabalho. Eu sempre lhe recomendo: "Cuidado, meu amigo, se tiver que machucar uma perna, machuca a natural, pois a outra é minha..." rs...

Isso tudo nos mostra como o trágico e o cómico andam juntos. Como podemos ter capacidade para brincar com nossas dores e nossos dramas, com respeito sempre, superando os maiores sofrimentos, tornando mais fácil e divertida a vida. E, principalmente, como podemos valorizar o que temos a partir do que não temos ou do que perdemos. E Paulinho, assim como tantos outros deficientes, estão sempre dando provas disso.

Aliás, quem disse "deficiente"? Mas que besteira... Essa palavra, empregada em seu sentido literal, não se aplica a ele. Para se aplicar a tudo que ele consegue, a palavra correta é "eficiente". E eu posso provar: até no tesão que a perninha provoca!!!

Parabéns, meu amigo Paulinho e... cuidado com essa perninha!


31/08/2002

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