CICATRIZES
Estou me esvaziando de mim
Cansei desse jeito de sentir,
De me consentir,
De expor minhas cicatrizes,
Em várias matizes
Pálidas e tristes,
Marcas das minhas crises,
Balanço das minhas raízes
Poço das minhas mágoas secretas,
Dos meus medos e pesadelos
Segredos e anseios,
Esboço de sutil receio
Neste inesperado passeio
Me fiz rio sem margem, sem aragem,
A desaguar minha bagagem,
A me desfazer da minha roupagem
Em arroubos de coragem
Nestes mergulhos profundos
Que me gastei, me rasguei, me devastei,
Apaguei o rastro dos meus passos,
Cortei todos os meus laços,
Me fiz aos pedaços,
Na busca do meu espaço,
Me perdi em vários braços,
E segui sem nenhum embaraço
Hoje na placidez do momento,
Me contemplo e me contento
Em aplacar meu tormento,
Posto que viver sem sossego, com medo,
É viver pela metade,
Uma vida sem saudade,
É pagar o preço de viver pelo avesso
Sem ardor, sem calor, sem amor,
É vida destruída pela mesma mão
Que faz da dor uma forma de amor,
Que nunca se renova,
Se alimenta da própria revolta:
E quando parte desenha a rota
Em cicatrizes tortas e
Mortas
MORGANA
Rio de Janeiro, 09/03/04.
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