No final de fevereiro, rejeitos de bauxita (óxido de alumínio) de uma das instalações da empresa, em Barcarena (PA), vazaram para a rede hidrográfica, em seguida às fortes chuvas que caíram sobre a região. Nos dias seguintes, foram também observados lançamentos irregulares de resíduos líquidos em cursos d’água não previstos nos planos de manejo integrantes do licenciamento ambiental da operação. Em 12 de março, a empresa admitiu à imprensa norueguesa que a prática vinha sendo feita desde 17 de fevereiro, alegando, porém, ter avisado as autoridades brasileiras. No dia 28, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicou uma multa de R$ 20 milhões à empresa, mas, até o momento, não houve qualquer manifestação do governo norueguês, detentor de 34,4% das ações da empresa, sob a alegação de que não é responsável pela sua operação.
A contradição não escapou à jornalista Clarissa Neher, da Deutsche Welle, em uma entrevista com a cientista política norueguesa Siri Aas Rustad, do Instituto de Pesquisa em Paz de Oslo, estudiosa dos impactos sociais da mineração em Barcarena:
CN – Essa posição de apenas esperar até ter clareza não é um pouco hipócrita, considerando que a Noruega, em 2017, criticou o governo brasileiro pelo desmatamento da Amazônia?
SAR – Esse é um aspecto a ser apontado. Claro que essa é uma situação embaraçosa para o governo norueguês, pois eles investem muito dinheiro para salvar a Floresta Amazônica. Acredito que eles querem saber primeiro exatamente o que aconteceu. Faz três semanas que ocorreram os vazamentos. Em questões políticas, ainda é cedo para um governo pedir desculpas ou decidir o que a empresa deve fazer. A Hydro tentará solucionar o caso antes de o governo interferir (DW, 13/03/2018).
Todavia, a pesquisadora admitiu que a repercussão do caso
está aumentando nos últimos dias. Começou devagar, mas especialmente ontem, após a empresa admitir que estava fazendo vazamentos controlados, depois de negar inicialmente qualquer tipo de vazamento, o tema se tornou uma grande notícia no país.
Segundo ela, “o fato de a Hydro ter mentido é algo que faz as pessoas se sentirem desconfortáveis. O mundo todo sabe que a Noruega é bom parceiro de negócios e tem orgulho disso. Assim, essa situação é embaraçosa”.
Não menos curioso é o silêncio quase total do aparato ambientalista-indigenista sobre o caso. Apenas o WWF-Brasil se manifestou a respeito (13/03/2018), assim mesmo, indiretamente, citando o caso na audiência pública realizada na Câmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei (PL) 3729/2004, que flexibiliza algumas regras do licenciamento ambiental, antiga reivindicação dos setores produtivos para reduzir os enormes impactos negativos da aplicação e manipulação da draconiana legislação ambiental brasileira pela militância “verde-indígena”. Nos sítios do Greenpeace, Instituto Socioambiental (ISA), Conservação Internacional Brasil, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) etc, não havia qualquer menção a respeito, no momento em que esta nota era escrita. Talvez, a recordação das generosas doações norueguesas tenha influenciado as pautas das ONGs.