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Infantil-->O-PAPEL-QUE-NÃO-SÓ-O-ERA -- 30/07/2002 - 23:41 (Nelson Ricardo Cândido dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
I

Era uma vez um papel
que vivia a lamentar
o destino que tivera
de um inútil se tornar.

“Tantas coisas neste mundo
ter nascido poderia:
coisas boas, coisas úteis,
que só dessem alegria!”

Assim pensava o papel,
que vivia a lamentar
o destino que tivera
de um inútil se tornar.

Do alto da prateleira
— esperando, hora após hora,
seu destino ser cumprido —
olhava o mundo lá fora

e sonhava com aquilo
que gostaria de ser,
caso não fosse um papel
com um papel a obedecer.

Foi o que aconteceu,
certo dia, ao avistar
alguém sabendo do mundo
por um rádio a informar.

Por que um rádio não sou?
Algo útil a propagar
aos quatro cantos da Terra
o que passa em terra e mar”.

E assim pensando vivia
o papel a lamentar
o destino que tivera
de um inútil se tornar.

De outra feita em que viu
um mendigo a se aquecer
envolvido em grosso pano,
um cobertor sonhou ser.

“Seria maravilhoso
esquentar quem frio sente,
seja pobre, seja rico,
morador ou indigente”.

E assim pensando vivia
o papel a lamentar
o destino que tivera
de um inútil se tornar.

“Olha lá, que coisa linda!
Uma ave a enfeitar
este imenso céu azul
sempre que está a voar.

Se me fosse permitido
meu destino escolher,
para alegrar mais o mundo,
uma ave iria ser.

Ou, quem sabe, poderia
também no céu habitar,
em vital sol amarelo
transformado, e a vida dar”.

E assim pensando vivia
o papel a lamentar
o destino que tivera
de um inútil se tornar.

II

O papel na prateleira
esquecido parecia,
pois na sala em que estava
ninguém nunca aparecia.

No entanto, certo dia,
alguém na sala entrou
e, chegando à prateleira,
de lá o papel retirou.

Sem saber quê se passava,
o que iria acontecer,
o pobre papel sentia
de medo o corpo tremer.

Numa máquina estranha
o papel foi colocado
e, preso entre dois cilindros,
foi sendo logo puxado.

Foi puxado para dentro
daquela máquina estranha,
onde não enxergava nada,
nem fora ou naquela entranha.

Puxa ali, puxa acolá,
foi o papel tão puxado
que não passou muito tempo,
ele estava desmaiado.

E longo tempo ficou
o papel desacordado,
sem saber o que havia
enfim consigo passado.

III

Quando, pois, voltou a si,
frente a um homem estava,
que olhava interessado
e seu corpo folheava.

Estava o nosso papel
transformado num jornal,
sendo útil, informando,
sentindo-se agora o tal.

Mas parece que a alegria
nunca dura muito tempo,
pois após tudo informar
foi deixado entregue ao vento.

Isso mesmo aconteceu,
não estou mentindo, não!
O jornal sentiu do homem
uma grande ingratidão.

Pelo vento foi levado,
sua sorte lamentando,
até que aos pés parou
de um homem mendigando.

O coitado parecia
gelatina a tremer,
tanto frio ele sentia,
sem ter algo a lhe aquecer.

O mendigo recolheu
o jornal abandonado,
cobrindo o corpo com ele,
sentindo-se agasalhado.

Não há mal que sempre dure,
dizia o velho ditado.
O jornal de novo útil
não mais lamentava o fado.

E assim passou-se uma noite:
o homem, agasalhado;
o jornal, agasalhando,
num cobertor transformado.

Tão logo raiou o dia,
o mendigo levantou
e, seguindo o seu caminho,
o jornal abandonou.

Parece inacreditável:
um homem abandonar
o que pode lhe ser útil!
Como pode isso se dar?

“Realmente, minha sorte
é para se lamentar.
Sempre que pra algo sirvo,
isso não é pra durar.

E eis-me aqui novamente
abandonado ao léu.
E se assim continuar,
findo ficando pinéu”.

O dia já ia longo,
quando um menino surgiu
e, olhando pro papel,
um grande sorriso abriu.

Recolheu-o bem depressa,
pra sua casa o levou.
Procurou pincel e tinta
e no papel desenhou.

O menino foi buscar
um barbante no armazém;
depois comprou uma cola
e uma vareta também.

Trabalhando com afinco,
o garoto recortou
o papel em bom tamanho
e no trabalho colou.

O papel não entendia
no que fôra transformado
e só o foi descobrir
quando ao céu foi alçado.

À medida que o vento
em seu corpo ia soprando,
sentindo-se muito leve,
subia ao ar, voando.

Sendo mudado em pipa,
quem, de dizer, haveria
que o papel, antes inútil,
trazia agora alegria —

alegria a muita gente
que lá embaixo apreciava
o seu vôo, tal qual ave,
que todo o céu enfeitava.

Nesse momento, o papel
perdeu todo o receio
do que lhe aconteceria
terminado esse recreio.

Agora o papel sabia,
após todo o acontecido,
que pudera ir além
do que havia nascido.

Qualquer coisa poderia
no futuro vir a ser.
Em si tinha confiança,
Nada tinha a temer.

Lembrou-se de seus lamentos,
dos sonhos que tinha então.
Fôra tudo o que sonhara
e aprendera a lição:

Não lamente seu destino,
inútil pensando ser;
viva e procure os caminhos
pra satisfeito viver!

IV

E satisfeito voava,
assim pensando o papel,
sem saber que sua presença
alegrava mais o céu

da cidade acinzentada
pelo dia tão nublado,
pois que na pipa estava
um grande sol desenhado.
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