Usina de Letras
Usina de Letras
295 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62176 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Infantil-->A ILHA DOS CENTAUROS -- 30/07/2002 - 23:44 (Nelson Ricardo Cândido dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O homem é um ser incrédulo,
São Tomé sempre lembrando,
pois só acredita em seus olhos —
razão o encanto negando.

Garanto que há no mundo
mais magia que juízo,
mais mistérios no universo
que contestam qualquer siso.

Não quero com isso aqui
tratar de filosofia,
mas preparar seu espírito
pra história que se inicia.

Em uma ilha distante,
os últimos exemplares
de uma raça em extinção
marcavam lá seus andares.

Um povo outrora fecundo,
sobre a terra galopante,
exilado fôra à ilha,
estando ora agonizante.

Falo do povo centauro,
Meio eqüino, meio humano,
Famoso na antigüidade:
Um mito greco-romano.

Contam que eram brutais,
temíveis ao ser humano,
e acabaram sendo expulsos
de todo o mundo romano.

Estavam certos os homens
de que não mais existiam,
mas a verdade era outra:
numa ilha resistiram.

Resistiram muito tempo,
pela ilha se espalharam,
tornaram-se amistosos,
os seus hábitos mudaram.

Fez-se na ilha uma pátria.
Desenvolveu-se a arte,
assim também a ciência
e a cultura em toda parte.

Não se conhece a razão
para o que aconteceu.
Sabe-se, apenas, que o povo
quase todo pereceu.

A ilha, outrora habitada
por seres admiráveis,
ficou então reduzida
a lar de três miseráveis.

Somente sobreviveram
o rei, seu filho e um criado,
aguardando o futuro
do qual seriam passado.

Nesse crítico momento,
nossa história se inicia
com o centauro Quirão
cavalgando em apatia.

Do mais elevado monte
naquela ilha existente,
o triste jovem pensava
no que vinha pela frente.

“Que triste sina esta minha!
De um reino sou herdeiro
do qual — quem sabe? — eu seja
o cidadão derradeiro”.

O véu da noite descia,
o mundo escurecendo,
deixando-o da mesma cor
da dor de quem está sofrendo.

Ao sinal da prima estrela,
Quirão olhou para o céu
e suplicou que o Destino
mudasse o fado cruel.

Ao brilho daquela estrela,
outro brilho se juntou:
o da lágrima do príncipe,
que sua alma derramou.

Da face rolou a lágrima
e, contra o chão caindo,
partindo e se espalhando,
toda a ilha foi cobrindo.

Quirão, de olhos fechados,
o espetáculo não viu:
sua lágrima parecia
um manto de estrelas mil.

Quando seus olhos abriu,
avistou um outro manto —
era o céu todo estrelado
como fosse um acalanto.

E, sob o manto argentino,
o jovem adormeceu
tranqüilo como se o mundo —
e o futuro — fosse seu.

Tão logo raiou o dia,
Quirão ergueu-se, animado,
descendo o monte a galope
em direção ao banhado.

Não saberia explicar
o jovem sua alegria;
sentia um bem estar
como há muito não havia.

Ao chegar-se junto à água,
curvou-se pra se lavar
e, como sempre fazia,
sua imagem pôs-se a olhar.

Enquanto olhava o reflexo
de seu forte e viril rosto,
viu mudarem-se as feições —
às suas eram o oposto.

Viu um rosto belo e suave —
um semblante feminino —
traço que nunca mais vira
desde que era um menino.

O seu impulso primeiro
foi erguer-se e procurar
a seu lado aquela jovem
que acabara de mirar.

Qual não foi sua surpresa
de nada ali encontrar!
Nenhuma moça havia
com ele no tal lugar.

Mesmo sem nada encontrar,
Quirão a seu pai correu
pra contar-lhe o que viu,
tudo o que aconteceu.

“Senhor meu pai, há esperança
de salvação pra este povo!
Uma jovem encontrei
que nos dará sangue novo!”

O rei ficou exultante
e a jovem mandou chamar,
mas Quirão logo lhe disse
que não a pôde encontrar.

O pobre rei, amuado,
caiu-se em prostração.
Durara pouco a alegria
que lhe trouxera Quirão.

“Mas meu pai, não desanime!
Sei que eu vou encontrá-la.
Se eu a vi no banhado,
só tenho de procurá-la”.

“Meu filho, ouça o que digo:
conheço toda esta ilha
tal qual a palma da mão.
Não existe outra família

que pudesse conceber
essa jovem que falaste.
Somos só nós três na ilha.
Tua mente te enganaste”.

Em respeito ao pai e rei,
o jovem nada falou,
mas sentia em sua alma
que a mente não o logrou.

Decidiu naquele instante
pela jovem procurar
em cada palmo da ilha
e com ela se casar.

Por vários dias Quirão
ficou nessa empreitada,
infrutífera, no entanto,
porque não encontrou nada.

Dirigindo-se ao amigo,
dito Folo — ex-criado —,
Quirão contou sua angústia
por sentir-se tão frustrado.

“Tenha calma, meu senhor,
pois, se tal moça existe,
cedo ou tarde a encontraremos.
Por favor, não fique triste!

Levanta! Vamos à busca!
Abater-se a nada leva.
O Destino já mostrou
quem será a nossa Eva”.

“Estás certo numa coisa,
Folo, meu único amigo:
eu hei de encontrar aquela
que me pôs neste castigo.

“Não pense você, no entanto,
que só tenho a intenção
de procriar nossa raça.
Eu lhe dei meu coração!

Estou falando de amor —
pode parecer loucura! —,
pois nada sei sobre ela
e só lhe vi a figura.

Porém, os poucos segundos
em que mirei sua imagem
tocaram-me o coração
como à brasa uma aragem.

Em fogo arde o meu peito
e a espera sangra-me a alma;
em sonhos vivo pra ela,
sonhá-la me traz a calma.

Mas quando acordo pra vida,
me amarga a realidade
por não a ter a meu lado.
Quase morro de saudade!”

E assim Quirão vivia,
procurando, dividido
em esperança e nostalgia,
mas na busca decidido.

Em uma tarde amena,
sol e brisa namorando,
Quirão mirou-se na água
do banhado, relembrando

mais uma vez sua amada,
quando visualizou
o rosto dela estampado.
Seu coração palpitou.

Mas dessa vez não se ergueu.
Ficou olhando pra ela
feito um enamorado
vendo a amada na janela.

Quando esboçou um sorriso,
ela o retribuiu.
Teve Quirão a certeza
que a mente não o iludiu.

Não desviou seu olhar
pra outra vez não perdê-la
e, mergulhando seu braço,
ousou na face tangê-la.

Fechando os olhos, sentiu
o rosto, o colo, o cabelo,
não imagem, mas real.
Findo estava o pesadelo?

Retirando o braço da água,
a imagem acompanhou
a mão do jovem encantado
e enfim se revelou.

“De fato você existe?” —
foi o que disse Quirão,
que mal podia falar
tal era sua emoção.

“Sim, é verdade, eu existo
e desde o dia em que o vi
não penso em outra coisa
senão estar junto a ti”.

Quirão estendeu-lhe a mão,
dizendo, todo alegria:
“Saia da água, querida.
Quero crer não ser magia”.

À medida que saía
da água a jovem amada,
no rosto dele se via
uma surpresa estampada.

Sim, já que, da cintura abaixo,
de peixe a cauda ela tinha.
Sentou-se sobre a areia,
qual fosse uma rainha.

“Você é uma sereia...!?” —
ele, a custo, murmurou.
“Sim, eu pensei que soubesses!” —
amuada, ela falou.

“Não fique triste, querida,
pois não me encontro frustrado;
apenas estou surpreso
por não tê-lo reparado”.

A partir daquele instante
envolveu-os a magia
do amor que tudo supera,
que torna a vida utopia.

Cada qual contou sua história,
em detalhes semelhante,
e concluíram, afinal,
que se casariam, os amantes.

A ilha fez-se em festa,
todos a comemorar:
centauros, sereias, seres
de água, terra, fogo e ar.

Realizaram-se as bodas
de Lígia e de Quirão
à beira do tal banhado
em que se deu a paixão.

O noivo estava vestido
qual um general romano.
A noiva mais parecia
uma deusa do oceano

vestida de algas marinhas
com pérolas multicores
que cintilavam num manto
nuvioso de vapores.

Esta história poderia
ter aqui o seu final
com os “felizes pra sempre”
como é habitual.

Porém, ainda há fatos
que precisam ser narrados,
já que este casamento
foi início de um reinado.

De qual reinado ele fala? —
alguém deve perguntar.
Falo da prole surgida
da união de terra e mar.

Quirão casou-se com Lígia.
Falo conheceu alguém
da família das sereias:
logo casou-se também.

Os filhos de ambos os casos
casaram-se entre si,
multiplicando o povo
nascido a partir dali.

Hoje a outrora triste ilha
está toda habitada
por raça jamais sonhada,
em obra alguma tratada:

as fortes patas eqüinas
sob o corpo pisciano
carregam à frente, esguio,
um belo torso humano.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui