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Poesias-->Adaptação -- 20/08/2003 - 01:43 (Rogério Penna) |
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O ar está cheio de murmúrios misteriosos...
A areia impregna-se de odores da terra
Odores da vida em apodrecimento antes da mágica ressurreição do carbono
A atmosfera acima de mim, pesa-me imensamente sobre os ombros
As águas debaixo do solo cavam e moldam as rochas.
Tudo vibra. Tudo oscila. Precipita-se no espaço.
Jã não ouço os murmúrios no ar
Já não percebo o cheiro da terra
Não sinto o peso do céu
Não sei das vibrações da água que passam
Despercebidas pelos meus sentidos
Afetados pelo exercício da vida
Pelo grande exercício da insensibilidade
E da adaptação.
Procuro na memória o cheiro ruim do ar puro
Procuro lembrar-me do ruído que há no silêncio
Tento sorrir a cada novo dia Tento indgnar-me com a injustiça
Tento chorar com a morte.
Envergonho-me de meu prato sempre cheio
Envergonho-me de meus pés calçados
Envergonho-me de minhas mãos sem calos.
Tento encantar-me com um tatu-bola no jardim.
Já não sinto o perfume das frutas
Ou o cheiro triste da miséria do povo.
É o hábito.
Adaptei-me. |
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