PERGUNTAS AO TEMPO
GERALDO ALVES
A terra me fez poeta
e pediu que eu perguntasse:
porque é que o tempo afeta
as coisas de classe em classe?
um é contra o sindicato
outro, no anonimato,
faz distúrbio que não finda.
Faz tempo que me esforço.;
estou sentindo remorso
que o tempo não disse ainda.
Já sei que o tempo é
celeiro de grande acúmulo,
depositário de fé,
calado igualmente um túmulo.
Capta, segura e esconde.;
nem pergunta nem responde,
nem desmorona o império.
Oculta, faz e desfaz.;
somente Deus é capaz
de desvendar seu mistério.
Existem grandes domínios,
monopólios e de cartéis,
estupros e latrocínios
feitos por castas cruéis.
O tempo vem abafando
e eu fico me perguntando
se o tempo é mesmo juiz.
O tempo é mudo e não fala,
o mundo faz e se cala,
o tempo esconde e não diz.
O tempo é enigmático,
de forma que o insensível,
acha que o crime é prático
e fazer o mal é possível.
A insensibilidade,
amor e fraternidade,
o tempo manobra tudo.
Andam paralelamente,
tudo passando na frente
dos olhos do gênio mudo.
Não sei se o tempo tem tempo
pra ouvir minhas razões,
ou existe contratempo
pra minhas indagações.
De crime e barbaridade,
desprezo à menoridade,
eu não sei se o tempo gosta.
Se as perguntas são loucas,
ou se o tempo acha poucas
para me dar a resposta.
Se não fosse essa magia
que o tempo tem no comando,
eu estava todo dia,
nos pés dele, perguntando:
porque tanta violência,
tanta dor, tanta imprudência,
tanto mal, tanto terror?
E, porque você aceita,
a humanidade feita
com tanta falta de amor?
Aonde estão os famintos
que vagueavam nas ruas,
e o tempo os fez extintos
usando de falcatruas.
Foi dando pancada e socos,
esbofeteando aos poucos
até a exterminação.
Morreram e se sepultaram
e até hoje, não voltaram
para dizer como estão.
Cadê aquela criança
que encontrei na calçada.;
sem ter, na vida, esperança.;
tristonha e abandonada
magra, faminta e doente,
sem ter, por perto, um parente
que desse, ao menos, um chá?
Só você, tempo, me explica:
o seu presente, onde fica?
O seu futuro, onde está?
Me diga porque existe
o menor abandonado,
e todo dia é mais triste
o quadro desesperado?
Quando pede uma migalha
tem gente que até gargalha
da triste situação,
se tornando, a cada instante,
mais longe do governante
morrendo à falta de pão.,
Aonde está a justiça,
que há tanta impunidade?
Que só se vê injustiça,
lamúria e barbaridade,
sangue rolando no chão,
um punhal em cada mão
do assassino cruel.
Basta matar pra ser rei.
Se há justiça eu não sei,
se tem, não faz seu papel.
Quantos males não fizeram
nas perseguições a Cristo?
Hoje tem milhões que esperam
pra fazer mais do que isto.
Se eu disser, me castigam,
porque os maus se abrigam
na sombra dos poderosos.
Porque você não se ajusta
para mostrar quanto custa
os erros dos criminosos?
Não se chega às conclusões.;
já faz tempo que espero
veredictos e ações
das leis do juiz severo.
Não desespero da fé,
pois, sei que o tempo é
metódico, firme e profundo,
regedor, sólido e patrono.;
honesto, compacto e dono
do código penal do mundo.
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