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cronicas-->O silêncio da cidade -- 20/12/2002 - 14:37 (Javier Martínez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O silêncio me incomoda, nada me acalma quando há sossego. Na cidade que cala a boca me acho deserta e inútil. Me dou nojo, me odeio, me vomito, me cuspo. Decido viver minha natureza e cresço na vertigem de queda livre, estómago paranóico, cabeça psicopata, línguas macias. Barulho para a cidade muda.

A cidade amadurece o grito e começa a me dar o calor que preciso. A música me faz vivenciar, mais uma vez, a beleza ardente do barulho. As almas fazendo vibrar as ruas. O sentido da natureza humana que, quando brota, enaltece seus instintos. Os loucos que apaziguam a dor maligna em alvoroços e demonstrações de superioridade.

Tanto tempo demora para chegar essa relva sonora que estou em êxtase. Ver os olhos enormes, as emoções conturbadas com um frêmito maduro de coisa selvagem. Nessa espiral, conhecida como cidade, entro no momento mais importante. Ela me chamou com seu càntico majestoso. Eis que me oferece sua porta invicta! Ela é encantadora!

A porta me dá acesso ao maravilhoso som. A madeira dessa fronteira, esse elemento isolador, é enrugada como uma vertente de veias pulsantes, palpitantes, como se tivessem vida própria. Não vou descrever os detalhes barrocos em ouro porque o barulho interior me chama com mais força a cada instante. Não tenho tempo a perder.

Abro com a minha chave mestra a entrada que foi feita só para mim. Ninguém mais sabe onde fica essa porta, ninguém conhece a sua combinação. O que ninguém imagina, só se pode especular. Mas todo mundo sente seu cheiro.

Uma vez dentro, tranco-me e faço preces ao meu profeta, o Homem, meu mago. Suas façanhas me surpreendem sempre, sua coragem me sublima.

Esse acesso conduz a um túnel que, deduzo, me levará ao epicentro do barulho, meu acometimento final. Ando devagar, e a sensação de clamor dos gritos na minha cabeça me deixa tonta. A onda sonora faz vibrar as paredes do corredor, e pedaços de tijolos frouxos tremem. Meu corpo vibra, arrepia, amolece, mas não posso parar. Devo chegar à garganta.

Depois de vários dias e uma longa caminhada, estou nela. Está aberta, das suas amígdalas vem um bafo quente feito vento vulcànico. Tenho uma tocha, uma corda e uma faca preparadas. O corredor fica estreito, estou dentro do organismo da fera e está escuro aqui. A tocha que me ilumina, por vezes queima as paredes da traquéia. No meio dos brónquios, inicio um incêndio e corro até o coração para comprometer seu funcionamento com a corda. Nunca soube fazer nós, razão pela qual ele continua alimentando a besta ruidosa. O seu tamanho é gigantesco.

Devo recorrer ao Plano B. Volto à porta da garganta e consigo cortar, em pedaços, as cordas vogais. Assim, finalizo a minha obra prima, a carnificina que me dá vida. Minha faca corta a goela, meus cabelos se cobrem de sangue. Visto-me de crime e minha criação cala, mais uma vez, à cidade. Agora, meu trabalho chegou ao fim; e minha missão, concluída. Alguns me chamam de Guerra, mas prefiro ser chamada de Arte.
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