Esperarei até às janeiras…
14/08/2003
Ao longe, avistei-o no alto do soberbo outeiro,
No meio do esplendor das folhas das videiras!
Ia ele, hirto, como os troncos das azinheiras,
nos córregos pedregosos, ia lampeiro.
Lá vai ele, o meu orvalho matinal ! – disse eu
enquanto colhia as azáleas outonais
(continuo a beber o rocio dos seus ais),
Lá vai ele, pelos claros montes de Viseu.
Lá vai ele, silencioso, como o rio Dão,
Bebericando, no horizonte, as pastorinhas
(como eu bebo, nos vales, as suas castas vinhas),
De olhar disperso, lá vai ele, sem razão.
Ah ! Queria eu viver nos seus olhos perdidos,
Deixar de profanar a sua vil solidão,
Pensar que me acolhe, como o Mondego o Dão,
No leito dos vales profundos e rendidos !
Ah ! Quem me dera poisar no seu regaço,
Como as andorinhas poisam nos seus anseios,
Ser o ribeirinho que segue os seus passeios,
Adormecer na mortalha do seu abraço !
Mas ele não me vê, por entre as castas videiras,
Nem me sorve, como a água cristalina,
Nem me dedica a mais bela cavatina !
Esperarei!...Até que me oferte as janeiras !
|