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Poesias-->Modelo de Carta de Suicida -- 31/08/2003 - 17:56 (Silas Correa Leite) |
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POEMA:
Modelo de Carta de Suicida
Recebi um modelo de Carta de Suicida
De um inusitado inimigo secreto, oculto.
Tinha espaços para serem preenchidos
Linhas pontilhadas, códigos de transmutações vencidos
E dicas para um perfeito uso de gás butano, rifle ou cianureto.
Espaços em brancos sugeriam alternativas vencidas, improváveis
Sem Plano B, Rotas de Fugas ou regras de fácil compreensão
Apenas era simplesmente utilizar alguns parágrafos chaves
Colocar o nome ao final (ou heterônimo e código-senha de filiado pirata clandestino)
E deixar depois sobre o rastilho de pólvora da solidão-albatroz.
Era uma carta-partilha rara e com técnica perfeitamente funcional
Meio Shakespere, meio Cantinflas, meio Fernando Pessoa
Ou mesmo Rilke, Silvia Plath, Lorca ou Kafka
E lembrava os quadros Campos de Trigos com Corvos e Guernica
E me senti ali identificado nos arames gélidos das confeituras.
(Minha mãe disse que era coisa de Mefistófeles de Fausto
Meu pai bufando foi tomar providências na agência de Correios
Minha irmã mãe-solteira mais sábia pediu-me uma cópia autenticada
Meu irmão caçula manquitola e picego virou lobisomem
E todas as minhas ex-Musas-Vítimas se vangloriaram da oferta e procura
No fértil curral das aparências que enganam hienas saradinhas)
Refeito temporariamente do bisonho susto paquidérmico
(Nada como um choque terminal para nos tirar de dentro do pote de vísceras da havência)
Tomei um porre homérico, desesperado escrevi esse poema vazão
No íntimo pedi a bença pra mãe na distante Itararé Encantário
E fui caçar freguesia no Porta-Lapsos da Casa dos Espíritos.
Hoje a carta perfumada resta-se íntimo butim num baú de ossos
Entre sachês de ódios sublimados e pertencimentos-resignações de dor
Tem selos do Arco da Promessa, carimbos-andaimes, ícones neurais
Técnicas de devãos e ainda cheira a pés de sagrados grilos cegos
Pois o extraordinário verniz da minha tentativa de abismo
Não casou com o exato cantar de galo no pré-auroral das vicissitudes.
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No entanto escrevo feito um repugnante condenado à vida
E quando baixa-me um decanto-toleima saindo pelo ladrão
Acordo-me para o modelo da Carta de Suicida e choro
Choro muito, choro perolágrimas - choro escondido a terrível depressão
Lembrando-me da íntima carta de suicida que como um registro com assinatura no DNA ainda trago comigo
Como se fosse um camuflado pano de rosto trágico e inevitável
De uma eternal gambiarra de angústia-vívere de castigo.
-0-
Silas Corrêa Leite - da Estância Boêmia de Itararé
Poema da Série Garagem de Charcos (Inédito)
Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm
E-book O RINOCERONTE DE CLARICE no site www.hotbook.com.br/int01scl.htm
E-mail: poesilas@terra.com.br
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