Era madrugada chuvosa. 2 horas e 45 minutos. As panelas e latas aparavam as gotas que escapavam entre velhas telhas sustentadas por uma tapera de tábuas, a água fervia num fogão de lenha que esfumaçava todo o ambiente. Dona Vina "a manca" era a parteira que aparararia o primeiro filho daquele casal ainda criança.
lençóis trapilhos se fizeram úmidos nas mãos da parteira que auxiliada pelo jovem e quase pai com uma seringa na mão rezava uma estranha prece. As estroncas da parede de tábuas manchadas pela chuva que caia torrencialmente eram o armário que sustentava uma lamparina a querosene cuja chama dançava ao sabor do vento que invadia o quarto pelas frestas nas paredes.
Naquele instante o jovem Sr. Luiz Barbosa, sapateiro por profissão, emocionado com a primeira visão de um ser vindo à luz, ora copiosamente segurando as mãos da menina D. Luzia Zanella Barbosa. Dona Vina "a manca" entre palavras de uma reza confusa entremeia ao jovem casal "será lumiado pela luiz divina" e o choro do susto da luz que invadia a tapera foi grito de felicidade por ganhar a graça da vida. Dona Josefina Barbosa avó do primeiro neto, esotérica, analfabeta de letras, humilde, mas, doutora na fé, sorri e me toma nos braços, levanta-me ao alto e naquele instante calo meu choro e recebo as bênçãos.
Amanhece. Pessoas chegam dos arredores sob chuva já mansa; nas estroncas de madeira encardida de fumaça, havia camomila, arruda, óleo de copaíba e a lamparina ainda acesa. Era 5 de janeiro de 1.959.