É dificílima a arte da profecia, alguém já fez notar, especialmente em se tratando de prever o futuro. Dito de outra forma, todo general está perfeitamente apto a vencer batalhas do passado.
Dois profetas se encontram, e o primeiro diz:
"Você vai bem. E eu, como vou?"
"Como vou?", pergunta uma senhora mui oportunista, ao ver passar o terapêuta do outro lado da rua.
Li, não sei onde, que "todos os homens são iguais perante Deus, mas alguns são ainda piores".
A moça queria porque queria nterpretar "Carcará", que João do Valle compôs e Maria Bethânia registrou em disco para sempre. A interpretação da moça, que disso talvez não tivesse notícia, começava com um largo gesto de despedida:
"Glória, aaaaadeus, Senhor nas alturas..."
Dizem que Chico Buarque gostava de inventar estórias e pregar peças em todo mundo. É claro, isso foi num tempo em que nenhum deles ainda era mito. Certa vez achou de espalhar que Caetano Veloso tinha ficado louco. Para dar mais veracidade à notícia, dizia que até a Bethânia tinha tentado falar com ele. Qual nada! O baiano só fez escorraçá-la para fora do quarto, aos berros de: "Sai, Carcará! Sai, Carcará!"
Na inauguração do Sesc/Araraquara, houve um show de Maria Bethânia no terreno ao lado do estacionamento. Num dado momento, uma voz exclamava cheia de surpresa: "Meu, tão falando que ela é irmã do Caetano!"
Na coletiva, um colunista social achou de perguntar: "Bethânia, por que você era chamada de a pimentinha ?" [sem comentários]
Também li que por pouco, por muito pouco mesmo, não fosse a intervenção providencial do progenitor, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, o menino Francisco não teria enveredado pros lados de uma confraria, os ultramontanos, que deu origem à famigerada TFP [Tradição Família e Propriedade]. Tão inverossímil como imaginar Zé Celso Martinez Correa de fita de congregado mariano, ou trepado num caminhão em comício integralista. Na época, ninguém sonhava que Araraquara um dia estaria situada no coração da Califórnia brasileira.
Certa vez, tocando na Piazza del Duomo, em Milão, num domingo de manhã, de repente me deparo com um casal bastante conhecido: Federico e Giulieta. O cineasta foi logo rodeado por uma chusma de curiosos. Giulieta ficou de lado, atenta à canção que eu terminava de interpretar. Foi bem sucedida a minha tentativa de entabular conversa. Para meu espanto, a amável resposta me veio em muito bom português, que ela atribuía à semelhança entre o dialeto genovês e o nosso idioma. Ao se despedir, ela me disse que estavam com pressa. Já ia começar a Missa das 10.
Um susto: por baixo da saia de Nossa Senhora das Dores, na Catedral de Sorocaba, nós, coroinhas, não fomos encontrar senão uma tosca armação de madeira.
Um coroinha dos mais antigos me ensinou que filho saía pela bunda.
Um dia, meu avô, que era sacristão, me chamou para mostrar uma coisa, um Menininho Jesus que tinha um pintinho.
__________________
Para quem ainda não leu, um aperitivo:
"Mas o obsceno talvez resida mesmo no interior das bocas, um vácuo mais obsceno do que qualquer som que as bocas possam emitir, e vem daí que os muçulmanos imponham o véu a suas mulheres, e não mordaças. No tempo em que Benjamim apreciava as belas-artes, constatou que os santos, os patriarcas, os reis, as personagens nobres costumam ser retratadas de boca fechada. A galeria dos boquiabertos é ocupada por mendigos, imbecis, pastores, centauros, bacantes, músicos, homens atormentados esgoelando-se, loucos na nave louca, danados nos Juízo Final, assim como Eva expulsa do Paraíso, a adúltera e seus apedrejadores, e Maria Madalena, antes de ser santa, que de quebra mostra os seios. O contrapeso de boca e sexo expostos é usual nos inocentes: anjos, faunos, crianças, o próprio Menino Jesus. Já adulto, Cristo faz suas pregações e pronuncia suas parábolas sem abrir a boca. Em algumas imagens da Paixão, quando olha para o céu e é mais filho do que Deus, os músculos do seu rosto e a sua mandíbula tendem a relaxar. E relaxarão às vezes nos braços da mãe, quando o âmbito de sua boca, visível, estará no entanto desprovido de espírito. Ao descer no ponto final, Bejamim pensa no tempo em que viajava pelo mundo, pensa que percorreu museus e catedrais de ponta a ponta, pensa que viu de tudo, mas nunca encontrou uma Virgem de lábios descolados."
[Benjamim/Chico Buarque – São Paulo: Cia. das Letras, 1995. Capítulo 1, pág. 23-25.] |
