No fundo da memória
Aberta ao sonho de concretização
dos projectos adiados,
há de se abrir uma esteira de luz.
Por fim, é a Obra que me retem os anos.
O traço. o risco, o plano e o compasso,
estão há muito desenhados na memória.
Uma memória que se apresenta agora
na disposição de o fazer.
Tudo virá sem surpresa,
sem esquecimento do sagrado,
de onde tudo emana.
Venho reconhecer - me no objecto,
no que de concreto me sair das mãos,
o que alicerça a minha vida de artesã.
É o momento da feitura,
que retem a passagem da luz
entre os meus dedos.
É aquele recúo que empresto ao sagrado,
para que se faça em mim,
como a soar o seu abstracto esplendor.
É o concreto alicerçado em minha vida,
na simplicidade, no despojamento,
que me retem a vida.
Os anos p’ra viver se cumprirão nessa jornada.
No partilhar do espaço,
Sem perturbar a serenidade do lugar.
De porta aberta, com a alma escancarada,
aparentemente solitária,
na companhia dos amigos que amam a solidão.
Isabel Duarte |