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cronicas-->DA CAIXA PRO CAIXOTE DE... -- 24/12/2002 - 10:11 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todo brasileiro, salvo raríssimas e bote raridade de exceção nisso, é expert em futebol, doido de perder o juízo por automóvel e capaz de ensinar a Barrichello como é que se faz para deixar o alemão comendo poeira.
É apreciador de uma vida mole cheia dos pileques, porque adora uma farofada e se comove com a leseira. E se tiver rabo-de-saia, vóte! Perde a noção do tempo.
Anda com um olho no padre e o outro no capiroto vez que é profeta religioso cheio de razão. Pois é, guarda um devotado mas num cochila em fazer uma fezinha no malsinado - de preferência, reza pros dois, mode não haver a menor dúvida na sua cabecinha cheia de caraminhola.
Bate no peito e se orgulha de Deus ser brasileiro e quando não é ruim da cabeça, nem inchado dos ossos e muito menos doente do pé, isto é, quando não se mete a burguês metido a besta, traça o maior gingado, pinotando, arrastando o solado e saculejando o esqueleto ao som da maior variedade musical.
Apreciável mesmo é o seu dom de possui o maior bom gosto para escolher a poposuda mais gostosa, parecendo mais ser o maior juiz de desfile de modas. Disso entende mesmo.
Enxerga um pouco mais que um palmo além do nariz, deixa tudo para se resolver na última hora, entende tudo de economia e possui uma puta habilidade para sair de saia justa com seu jeitinho malandro mais descompromissado que se possa imaginar. Ó. Sim, para quê, hem? Ohhhhhhh!
Todos nós sabemos que qualquer brasileiro é capaz de jogar nas onze, bater o escanteio e, ainda, correr para cabecear pro gol; bate bombo e se arvora a conversar com os mortos quando é preciso engalobar meio mundo de besta; além de possuir a sapiência mais privilegiada em dar a marretada na cabeça do otário que zanza tonto por aí. Eita! Vantagem em tudo!
Óxe, isso ainda num é nada: passa aperto e renasce das cinzas com a maior cara de tacho risonha, mangando da desgraça alheia. Queima o rabo mas só vê o incêndio dos outros. Vóte! Consegue mais ser o mesmo no litoral, no agreste, no sertão, no cerrado, nas florestas, no pampa, no pantanal e na casa da rotónica duzentos e cinqûenta quilómetos de cabeça prá baixo a dentro. E o que é pior: é judiado como a praga e num tá nem aí, sacou? Parece mais que sabe que, um dia, a casa cai e vai ser a maior zuretada ver o enterro voltando, pois adora um boi-de-fogo.
Tem mais uma: adora uma fila! Puta-que-pariu meus demónios todos! Vai gostar de fila assim no raio que o parta! Isso não! Reitero, isso não! Fila? A fila não é desse povo extraordinário que gosta de levar chuva, sereno, o pino do meio dia, o mormaço da tarde, tudo azuretando o quengo na maior paciência.
Não, de fila, ora, se tem uma coisa que merece a gente esculhambar, é em dia de pagamento de aposentados e pensionistas na Caixa Económica Federal! Isto é, o dia todo, o tempo todo, o ano todo.
Alguém desavisado, por acaso, assim, de veneta, já entrou numa agência dessa sem ter que enfrentar uma fila do tamanho que possa enervar o cara mais atarantado que exista? Não? Ou? Se respondeu não, dá licença, ou você é um ET ou um privilegiado que nunca precisou dos serviços dela. Vai lá, vai e dá uma checadinha só para ver o desmantelo. Eu mesmo penso cá comigo: ou os economiários são uns cara tudo roda presa daquela mais ronceira, ou lá devia ter mil e tantos só tendo dez por cento dos funcionários necessários. Parece mesmo. Porque o atendimento é de quinta categoria e, para nossa indignação, o que é pior é que quando chega a sua vez, que tem sempre uma porra duma desconfigurada lá no toitiço do negócio, a ponto de só se resolver quando Deus der bom tempo. Já passaram por isso? ah! quem não passou, ainda não viveu nadica de nada de aperreio cabuloso para cima do vitimado. Vá lá, faça um teste!
Primeiro, acorde cedo senão perde a senha do atendimento. De preferência nem durma, fique lá de plantão tomando conta do que é seu que está lá dentro.
Aconselho levar algum brebote de sua simpatia para conseguir matar o tempo.
Como sei que todo mundo só recorre de uma instituição bancária quando tá liso na maior apertura, tenha paciência, Deus estará do seu lado o tempo todo e vai facilitar as coisas para a sua banda.
E mais: nem se avexe, você será sempre atendido assim em qualquer instituição pública municipal, estadual ou federal, e até nos bancos particulares, nos Detrans, nos... ora!
Se não for o primeiro da fila, melhor, pelo menos vai ter com quem soltar umas piadinhas para tornar aquele delicioso passatempo mais aprazível.
Não cochile. Pelo amor que você tem à sua santa mãezinha, não cochile, senão perde a vez.
Quando o dia amanhecer, aproveite e faça o seu testemunho desse espetáculo que é a permissão de você estar vivo exatamente naquele momento mágico. Sorria, o dia só está começando.
Quando a funcionária distribuir as fichas, não esquente se o seu número for mais de mil, mantenha a calma.
Se não tiver dinheiro para pegar a condução nem para encher a pança, disfarce, faça como quem está de bucho cheio: solte uns peidos para ver se alguém abre caminho.
Não se abufele quando o gerente querer endireitar o que já está desindireitado, ou enretar o que está desinretado. Isso é pura mania dele, considere: gente tem cada pantim!
Quando conseguir atravessar o umbral, festeje. Agora vocè será contemplado com um excelente atendimento. Um alerta: não xingue nem detrate nenhum funcionário, pelo amor de Deus. Eles mandam e quando empacam são pior que jumento na beira dum rio. Pois é, você está num verdadeiro mata-burro!
Se sentir uma canseira nas pernas, nem leve a sério, nem rebole para descansar de banda, os cambitos foram feitos para a gente ficar ali feito poste, esperando ser agraciado pela gentileza do atendimento.
Se na hora agá mandarem voltar dali uns dias, nem se abufele, agradeça pelo milagre de ter sido atendido em tempo recorde.
E se a sua necessidade for premente, dê um jeito: tapie a morte, plante bananeira, dê uns saltos soltos, tente sapecar umas baboseiras, invente umas arruelas tronchas, faça uma doidice diferente e arrume uma forma de se aguentar até tudo ser resolvido.
Se conseguir escapar ileso dessa pantomina toda, salve! Você é mais um privilegiado que passou pelos organismos oficiais zerando todos os pecados, sem hematoma, sem ferida em parte alguma, sem juizo mole, nem traumatizado e o melhor: ficou santo com uma cópia da chave do céu. Parabéns! E viva o Brasil! Bié, bié, glup, glup!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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