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Contos-->"Qui nem nóis" -- 12/04/2003 - 22:30 (Emilio Carlos Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Qui nem nóis...” - Conto.

Barbosa era um sujeito bem falante, rosto redondo, simpático, estatura mediana, um pouco acima do peso e quase sempre usava roupas claras. Quando o conheci prestava serviços no 1º DP em Santos/SP, no chamado “Palácio da Polícia”que ficava na região central da cidade. O local era um prédio de cinco andares que abrigava também a Cadeia Pública nos dois últimos pavimentos, sendo que no 5º ficavam os detentos mais perigosos. A vizinhança era constituída de bares, lanchonetes, lojas das mais variadas, estabelecimentos especializados em despachos policiais e até uma escola pública das mais tradicionais.
Estudantes de Direito, eu e mais um grupo cumpríamos expediente diário numa sala contígua ao Cartório da Delegacia que ficava no 3º andar, como parte do estágio na disciplina de Processo Penal. Nossa atividade consistia em prestar assistência jurídica gratuita para os detentos, requerendo transferências, elaborando “Hábeas-Corpus”, recursos e as demais medidas judiciais e administrativas cabíveis a cada caso, tudo sob a supervisão do professor da matéria. Na verdade o professor somente julgava o nosso desempenho, pois quem nos auxiliava, acompanhava, dava “dicas”, fazia a triagem dos processos, etc. era o Barbosa. A ele devíamos o bom desempenho que estávamos tendo na prática do processo penal. Ele era uma “fera”, sabia tudo e nos foi de grande valia durante aquele período. Como se dizia na época: “Era uma mão na roda”.
Um belo dia fomos comunicados, durante uma reunião com o Delegado Seccional, que no dia seguinte iríamos conhecer o famoso “quinto andar”. O local consistia numa série de celas dispostas lado a lado, ao longo de um corredor e nós teríamos permissão para conversar e entrevistar os presos, desde que guardássemos uma certa distância das grades...
A visita - para nós “a aventura”- transcorreu calmamente. Os “internos” nos receberam com interesse e uma certa curiosidade, além de mostrarem-se alegres pela quebra da rotina. Ademais, aproveitaram a oportunidade para fazerem pedidos envolvendo cigarros, material escolar, lápis, papel e envelope para cartas, além de - é claro - selos. O que foi surpreendente na entrevista com alguns deles era a conhecimento que tinham de artigos do Código Penal, mormente dos dispositivos em que estavam incursos.
Ah! Quase ia me esquecendo, o Barbosa nos acompanhou até a beira do início do corredor, sumindo por ali mesmo.Quase ao final da visita, ele reapareceu e foi o bastante para que um dos detentos o visse e nos apontasse dizendo : -“ Dotor”, o senhor ta vendo aquele ali? Ele é qui nem nóis. É 171”.

NOTA: (171 é o número do artigo do Código Penal referente ao delito de estelionato).

Emílio Carlos Alves – emileto@hotmail.com

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