Uma Crônica de
Gil Capanema
São Paulo – Brasil – Dezembro - 2002
Para a amiga e poetisa Lina.
Acordava cedo, junto com os primeiros sons do dia. Levantava-se e, como em um ritual, ia para seu jardim. Não era um jardim grande, mas cabiam nele todas as flores do mundo. Ficava parada na soleira por alguns minutos e sentia o doce cheiro da manhã.
Cuidadosamente andava por entre os canteiros cumprimentando todas as flores e todos os verdes. Parava em frente ao Girassol, sorria e prosseguia. Lina nunca reparou no entanto que, quando seguia adiante o girassol a acompanhava, esquecendo-se do sol a quem devia fidelidade. Lina é assim. Uma destas raras pessoas que não só vivem na luz como a carrega em seus passos.
Uma a uma ela falou com as flores. Puxava para elas os raios do sol e, cuidadosamente, as iluminava e trazia vida. As flores não eram o jardim. Lina era o jardim.
Um dia Lina me perguntou “Gostaria de fazer parte do seu círculo de amizades. Isso é possível?”. Ainda tenho comigo o delicado cartão que ela me mandou com esta frase. Talvez Lina não entenda minha demora por ter respondido mas é que fiquei surpreso demais pela pergunta. Foi como se o sol me perguntasse se quero ter luz e calor. Foi como se a lua me perguntasse se a quero ter no céu para iluminar meus sonhos. Foi como se o mar me perguntasse se quero ter suas ondas para pular e fazer meus pedidos. Lina não precisa perguntar. Lina já era minha amiga quando li suas poesias. Lina já era minha amiga quando me permitiu a honra de ler seus traços. Lina já era minha amiga desde sempre.
Só quem escreve sabe o que é isto. Quem desafia a palavra. Luta para dar-lhe vida. Sua para fazer dela uma arma poderosa contra a tristeza, uma forma de derramar sentimentos. Lina cuida de sua palavras como cuida de suas flores, derramando luz sobre ambas.
Se nunca lhe respondi, digo agora. Sim você pode fazer parte do meu círculo de amizades. Na verdade, você sempre fez.