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Poesias-->Elegia de guerra -- 14/09/2003 - 23:52 (Rogério Penna) |
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I
Perdoa-me Deus, porque tenho medo
Perdoa-me pelo descaso e pela insensibilidade, mas sobretudo
Perdoa-me porque tenho medo
Por favor, façam silêncio
Preciso ouvir os meus próprios pensamentos.
Não o pensamento que grita, como uma voz interna
Carregado dos meus preconceitos, das minhas vaidades e das minhas opiniões
E não aquele que, por trás desta voz, opina sem frases, livre das cordas do mundo, mas cercado pelas teias da própria obrigação consigo mesmo.
Preciso de espaço.
Por favor, façam silêncio.
Quero ouvir o sussurro distante do meu coração
Sem frases
Sem palavras
Sem nada
Onde há apenas um pequeno ponto de luz
De onde surgem todas as coisas que vem de dentro para fora
Longe do alcance das coisas que vem de fora para dentro
Onde sou apenas criatura
Onde sou apenas uma pequena parte
Onde sou apenas
Onde apenas sou
Apenas
Por favor, façam silêncio
Que estou a me digladiar com a escuridão
II
Perdoa-me Deus porque tenho medo
Perdoa-me pelo descaso e pela insensibilidade, mas sobretudo
Perdoa-me porque tenho medo
Não posso prosseguir
Chamo no vazio. Não há resposta
Brando minha espada no ar contra as asas da criatura que me aprisiona
Suas garras tem a força de cada coragem que eu nunca tive
Seus olhos faíscam a luz de cada chama que não me consumiu
Vejo em seu rosto os traços de cada um dos amores que não pude amar
Cerca-me por todos os lados, fere-me o peito, atinge-me a garganta
Estou só
Não posso prosseguir
Por favor, façam silêncio
Procuro no ar os cantos de guerra daqueles que virão em meu resgate
Mas tudo o que encontro é poeira e desolação
III
Perdoa-me amada, porque tive medo
Perdoa-me pelo desastre da sensibilidade, mas sobretudo
Perdoa-me, porque tive medo
Ai de mim que deixei o meu posto
Ai de mim que transbordando de amor não pude amar
Deixo-me, esqueço
Apenas a tua mão me salva
Apenas a tua voz me ergue definitivamente para a batalha
Tuas mãos estão distantes
Tua voz, não ouço mais
Espero a tua chegada em uma doce desesperança
Além disso, não há mais nada
Um pequeno ponto de luz
Onde sou apenas criatura
Onde sou apenas uma pequena parte
Onde sou apenas
Onde apenas sou
Apenas
Rogério Penna Quintanilha
set./2003 |
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