Francisco manifesta uma inclinação impetuosa que há de acompanhá-lo até a morte: a sede da solidão. Era uma solidão habitada por Deus e governada pela paz.
As visitações extraordinárias que tinha recebido, despertaram em Francisco um desejo ardente de estar a sós com o seu Senhor.. Seus olhos eram poços de saudade e sua alma era um abismo insasiável chamado sede de Deus. Quando a alma humana foi profundamente seduzida por Deus, adquire asas do tamanho do mundo e, para estar com o seu Senhor, é capaz de transpor montanhas e mares, é capaz de percorrer cidades e rios.
Mas a alma não tem o mesmo estado de ânimo em todos os momentos. Francisco agora é frágil como o cristal. É capaz de alcançar uma estrela ou de fugir como um desertor. E diz pra Jesus: "Tu sabes que eu sou uma folha seca ao vento. Cobre-me com tuas asas. Calça meus pés com sandálias de aço e não permitas que o medo se aninhe no meu coração."
A brancura da neve, o azul do céu, o poder das montanhas brancas e a força da tempestade lembravam Deus. Francisco sentava-se contra a parede da gruta, curvava-se até apoiar a fronte nos joelhos e ficava absolutamente quieto durante horas. O Pobre entrava no último quarto do seu ser e aí nesse recinto fechado, Francisco abria-se para Deus e Deus se abria para Francisco. Ele acolhia Deus que se abria e Deus o acolhia na sua entrega.
Ficava assim muitas horas, submerso nas profundas águas divinas.
Até que um dia Francisco estendeu as asas, recolheu todas as suas paixões por seu Amor Crucificado, e lentamente, muito lentamente, o Pobre de Assis foi penetrando nas órbitas siderais. Afastou-se como um meteoro azul, até perder-se nas profundezas da eternidade.