A demagogia dos políticos, o aproveitamento do estafado argumento de que os emigrantes estrangeiros tiram trabalho aos nacionais, o factor da insegurança - sem ir ao fundo das questões sociais que a provoca, a governação «à direita» mesmo por partidos ditos de esquerda, a corrupção generalizada, tudo isto são razões para o descrédito da política e para a desorientação dos eleitores. Agora em França mas, também, na quase generalidade dos países europeus.
As eleições têm servido para «contar espingardas» e os partidos preferem procurar conhecer as suas forças (que muitas vezes afinal são fraquezas), fazendo acordos só depois das eleições em vez de ter a coragem de se apresentarem coligados (ou com programas comuns).
Em França, além disso, a fragmentação partidária exagerada (até na própria extrema direita há dois partidos...) levou a uma anormal dispersão de votos. E o impensável aconteceu. O partido socialista francês acabou por ter menos votos que o partido do senhor Le Pen. Atacado por Chirac, seu «principal adversário», Jospin negligenciou o valor eleitoral da extrema direita e a natural usura do poder. Curiosamente, se Jospin tivesse passado à segunda volta, era muito capaz de ser hoje o Presidente da França... Assim se faz História, ao arrepio de todas as lógicas.
Duas ilações a tirar : o que aconteceu deve servir de lição para outros países e, uma vez os partidos fascistas legalizados, devem ser combatidos democraticamente e nunca de modo «estranho» e violento. A menos que se queira proceder de acordo com as práticas da ideologia que se pretende contrariar. Estes partidos devem ser combatidos de maneira ideológica, não esquecendo que representam já alguns milhões de cidadãos. É pela pedagogia das massas (mas também pela prática política) que se pode evitar o renascimento da «besta nazi».