O MOMENTO DE DEUS
Antonio Luiz Macêdo
Shows, ensaios, arranjos, regência, composições, apresentações, embarques, desembarques, cansaço, suor, sono, solidão, partituras, agenda, passagem de som, hotéis, ônibus, aviões, alimentação inadequada, e tantas coisas mais, fazem parte da vida de um músico.
O palco então transforma-se num verdadeiro altar onde ele celebra o “seu dom maior”, que não é seu, mas presente da benevolência do Deus que é amor. E ali o músico se encontra, se doa, se expande, se alegra, aquece, surpreende, emociona, chora, ri, pula, dança, contagia e é contagiado pelos aplausos, assobios, gritos, gestos, que renovam suas energias e o fazem esquecer o cansaço e os seus limites.
O tempo torna-se seu inimigo número um. Se o tempo não existisse o dia poderia ter 48, 72, ou – quem sabe? – até 96 horas. Seria o ideal para todas as suas soluções e todas as suas angústias. O relógio passaria a ser um acessório quase que inútil, porquanto poderia muito bem ser observado apenas de três em três dias, e certamente alguns chavões perder-se-iam na perda do tempo: “Não tenho tempo pra comer agora; guarde isso aí que agora não dá; mainha, depois eu arrumo as roupas, já estou atrasado; Davi, cara, quebra o meu galho na lavagem da louça, o ensaio começou às duas, são duas e cinqüenta e ainda estou aqui; não vai dar tempo nem tomar banho.”
Mas chega o momento da reflexão, o momento da parada, o momento de Deus. Quando Jesus diz “o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado foi feito para o homem”, é para nos lembrar que não fomos criados com a finalidade de sermos escravos do trabalho, mas para que nunca nos esqueçamos “de que a cada dia basta o seu cuidado”; o mesmo ensinamento que o Mestre nos deixou na mais bela de todas as orações: o pão nosso de cada dia nos daí hoje.”
Portanto, Renninho, nada acontece na vida por acaso. Deus nos quer sadios, alegres, risonhos, brincalhões... Mas Ele também é Pai. E como Pai benigno e misericordioso, Ele sabe o que é o melhor para os seus filhos. “Qual é o pai que o filho lhe pede um pão e ele lhe dá uma pedra? – pergunta Jesus. As paradas, as provações, as tempestades que acontecem na nossa vida, têm como grande fundamento, reconhecer o amor de Deus e aumentar a nossa fé.
Acredite, confie, não desfaleça. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Ao cego Jesus disse “Vê!”, e o cego instantaneamente enxergou. Ao paralítico Jesus falou:”Toma tua maca e vai para casa”, e o ex-paralítico saiu andando. À mulher que sofria há doze anos de uma hemorragia incurável, Jesus confirmou: “A tua fé te salvou”, e a cura aconteceu. A você, neste momento de solidão em que você nunca está sozinho; a você que a cada momento recebe demonstrações de carinho e de ternura do painho, da mainha, da tia Béia, dos seus irmãos, dos seus amigos, de sua namorada e de seus familiares, Jesus diz: “Não temas. Crê somente”.
Talvez a fé mais profunda
que cada um deve ter,
é passar a tempestade
sem temor e sem tremer,
vendo que mesmo dormindo
Jesus vem nos socorrer.
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