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cronicas-->Números -- 24/07/2000 - 00:28 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se eu dissesse que desde moleque sou fascinado por números, estaria mentindo. Eu sempre preferi o desenho e as letras. Durante a (argh!) adolescência é que comecei a ver coisas legais da matemática, principalmente através da física. Mas foi na Engenharia que aprendi coisas realmente legais, nos Cálculos, nas Físicas e nas Mecànicas. Viagens teóricas para se chegar a aplicações práticas, provas cabeça de teoremas malucos, cálculo de coisas que você nem imagina que são possíveis de se calcular (quem fez Mecànica dos Fluidos sabe do que eu estou falando). Desde então percebi que Pitágoras estava certo quando proclamou que "tudo é número", pois a matemática está presente em todo o Universo, sem uma única brecha sequer.
Estou lendo um livro chamado O Último Teorema de Fermat, comprei na www.submarino.com.br por R$28,40 (eu sabia que ia chegar a hora em que comentaria algo sobre um livro que realmente existe e então eu me sentiria como a criança mentirosa que, quando precisa dizer uma verdade, ninguém acredita e diz ah, seu moleque safado, dessa vez você não me engana, e ele faz cruzinha com os dedos nos lábios, dizendo eu juro, eu juro, é verdade!). O autor, Simon Singh, conta, de forma simples e romanceada, a história de um teorema do matemático francês Pierre de Fermat, anunciado há 358 anos e permanecendo até esses dias sem demonstração, sendo por isso um dos maiores dasafios para os matemáticos do mundo inteiro. Em 95 um inglês, Andrew Wiles, conseguiu finalmente demonstrar o teorema (veja o enunciado lá no final) e ganhou vários prêmios por isso.
O livro é muito bom, e me inspirou a pensar em alguns números e fazer algumas contas bem simples, mas que são de extrema relevància para uma vida plena e satisfatória. Nesses dias em que não podemos nem parar para refletir sobre a beleza dos grandes ipês floridos do nosso inverno sem que o gerente do banco ligue para cobrirmos nossa conta, esta pequena reflexão matemática talvez lhe ajude a atingir um grau mais elevado de contemplação. Ou pelo menos um sorriso de canto de boca, pelo qual já me sinto muito bem pago.
Pegue uma calculadorazinha aí e confira minhas contas: uma pessoa come, em média, 1,2Kg de comida por dia. Se bem que meu primo disse que comia isso no almoço num restaurante por quilo em São Paulo. Mas ele não é uma pessoa normal. Digamos que esta pessoa normal, um carnívoro não glutão, viva 70 anos, ou seja, uns 25.550 dias (não contei os bissextos). Assim, aos 70, terá ingerido aproximadamente 30 toneladas de comida. Dessas 30 toneladas, digamos que 25% representem as proteínas animais. Isso dá 7,5 toneladas de bife. Sobram os farináceos, cereais e vegetais. Digamos, em mais um chute absolutamente sem fundamento algum, que 10% do peso total venha dos vegetais, ou seja, 3 toneladas de mato e tubérculos. Sobram então 19,5 toneladas de cereais e farináceos.
Agora vem a bomba: o governo diz ser aceitável encontrar 0,01%, em peso, de fragmentos de insetos nos alimentos desta última categoria. Portanto, ao chegarmos no final da nossa vida, teremos comido cerca de 1,95Kg de insetos. Uma barata gorda deve pesar, digamos, 4g. Dessa forma, aos 70, já teremos mastigado e engolido o equivalente a umas 487 baratas! Não é o máximo?
Uma outra conta, mas que odeio fazer, é a seguinte: fumei durante 5 anos, mais ou menos. Fumava pouco, é verdade, cerca de 0,9 maços por dia (sempre sobravam dois para o café da manhã). Isso resultou, além de uma coisa marrom atrás dos meus dentes, em 1825 dias de fumante, nos quais consumi 1642 maços de Marlboro (não contei os dias de prova, onde o consumo dobrava nas madrugadas da capital paulista e nos corredores da Poli). Nem sei quanto está custando um maço hoje, mas me lembro que na época era R$1,70. Ou seja, fumei R$2.792,25. Se eu tivesse aplicado esse dinheiro num fundo de renda fixa há 3 anos, hoje eu estaria com mais ou menos R$3.900,00, que seriam mais que suficientes para comprar meu atual objeto de desejo, um notebook.
Mas os números que mais me incomodam, além dos irracionais e dos complexos, são os relativos aos acontecimentos inexoráveis, como por exemplo o número de verões e invernos que temos na Terra, ou o número finito de episódios dos Simpsons que existirão até que o mundo acabe. Ou ainda os que dependem diretamente da nossa habilidade em gastar o nosso tempo. Por exemplo, eu leio mais ou menos 1,5 livro por mês. Assumindo que eu consiga manter essa média por mais, digamos, 42 anos (se é que chego aos 70 comendo tanto chocolate), então poderei ler ainda 756 livros antes de bater as botas. De todos os livros que existem no nosso planeta, que devem ser milhões, só vou conseguir ler 756!
Então, na próxima vez que você se encontrar gastando seu precioso tempo lendo um engenheiro metido a cronista qualquer, pense bem e comece a ler aquele exemplar de Os Sertões, que está empoeirando na estante. Aí, depois, você me fala se valeu a pena.

(Só por curiosidade, o teorema de Fermat conhecido como o "último", diz que não existe nenhuma solução em inteiros para a equação x^n + y^n = z^n (x à potência n...) para n maior que 2. Parece fácil, pois a equação é bem familiar (uma generalização do Teorema de Pitágoras), porém a demostração é monstruosa e muito, muito complexa).
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