A GAROTA DO CALENDÁRIO
Lílian Maial
Quem quer que passe por acidente
bem ali em frente
na oficina, na rua
em qualquer esquina
ainda verá essa menina
doce e feiticeira
charmosa e oferecida.
Podia ser a Elizabeth,
a Magda, a Aparecida,
assim, despercebida,
objeto de desejo,
ganharia tudo por um beijo.
Sonho dos meninos de cabelo raspado,
acalento dos senhores já não tão bem dotados,
ostentando a masculinidade
de quem a portasse
mal escondida na carteira, amarelada, talvez um pouco rasgada,
mas com esses mesmos traços há anos...
Esses mesmos braços sem planos
essa mesma boca entreaberta
[uma chama para a coisa incerta]
e essas coxas
bem torneadas e lisas
sem pêlos, sem apelos,
longas e promissoras,
como que guardassem o que mais se cobiça...
Ah, essa pele, esse cheiro de pecado
[que sempre mora ao lado]
e os seios alheios a tudo,
aqueles dois olhos pontudos
acondicionados em envoltórios de veludo
onde o pensamento se atreve a pousar a cabeça e esquecer dos dias...
Ventre de pura orgia, alegria
escorrega de dedos vadios
pés de mulher no cio
de dedinhos arteiros
tornozelo faceiro
e esse traseiro...
Ah, está na hora
de escolher o vestido
de dentro do armário
e parar de olhar para o espelho,
você, que tanto se ama
e como se vê,
gostosa garota do calendário.
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