Querida,
Carrego em meu universo fantasioso, a nossa lareira. O fogo permanentemente aceso, a noite fria e calma, e o silêncio apenas interrompido pelo som das chamas, formam o cenário. Eu a imagino em nosso chalé, sentada no sofá, com um xale nas costas - como da última vez que estivemos juntos (parece que foi ontem!... parece que foi há um século!...). VOcÊ está encantadora, de olhos fechados, como quem não quer se distrair, quer apenas apenas sentir o aroma que penetra suave pelas sua narinas, quer ouvir o som noturno do bosque, deixando-se levar pelas imagens produzidas pela sua mente. Venha comigo, neste transe, sinta comigo o cheiro de pinho molhado trazido pelo ar da montanha, sinta o calor do fogo em suas faces, sinta o gosto do vinho. Vinho que você toma aos pouquinhos, em pequenos goles. Sinta o sangue correndo por suas veias. Sinta meu amor por você. Não precisa olhar, apenas imagine, estou em pé, próximo da lareira, com um livro nas mãos. Ele está aberto, você percebe que começo a ler um poema em voz alta. Vagarosamente, tentando não quebrar a magia do cenário. Vinicius o escreveu e eu o leio como se eu o tivesse escrito, para você.
“Ela entrou como um pássaro no museu de memórias e no mosaico em preto e branco pôs-se a brincar de dança. Não soube se era um anjo, seus braços magros eram muito brancos para serem asas, mas voava.Tinha cabelos inesquecíveis, assim como um nicho barroco onde repousasse uma face de santa de talha acabada.Seus olhos pesavam-lhe, mas não era modéstia era medo de ser amada; vinha de preto. A boca como uma marca do beijo na face palida. Reclinado; nem tive tempo de a achar bela, já a amava.”
Voce abre seus olhos, negros, brilhantes, refletindo a luz da lua que se vê através do vidro da janela, e sorri para mim... Nada falamos. O silêncio é a moldura perfeita.
Boa noite, minha querida. Sonharei com você e nosso chalé.
Heros
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