CAÇA AO TEIÚ
Eu estava escrevendo na varanda – na linda varanda que Deus me deu, rodeada de verde por todos os lados – quando meu neto de três anos chegou afogueado. Vestia um calçãozinho, umas botas de chuva, trazia na cabeço um capacete de motoqueiro e nas mãos uma metralhadora de plástico, dessas barulhentas:
- Vovó, vamos caçar teiú?
Qual a avó que não adere, imediatamente, ao convite?
- Vamos! Eu ponho o meu chapéu de explorador, pego uma espingarda...
- Você precisa botar botas, vovó – disse ele, olhando para os meus chinelos.
- Lógico, ponho as minhas botas de borracha e chamo o Vidabá.
- Vidabá vai também?
- Claro, nós precisamos de um valente cão de caça.
- Vovó, Vidabá é valente? – Perguntou desconfiado.
- Valentíssimo! Ele vive molenga, dormindo pelos cantos, para disfarçar.
Ele não quer que os teiús saibam como ele é valente e esperto...
- Eu vou na minha moto. Se você quiser pode ir no meu velocípede!
- Que maravilha! Adoro caçar teiús montada num velocípede!
- Eu já arranjei uma lata bem grande – ele abre os bracinhos – para botar o teiú. Você leva a lata pra mim?
- Levo. Posso até amarrar a lata nas costas, feito mochila
- Mochila,vovó?
- Sim, os caçadores usam mochilas para carregar comida.
- Teiú morto?
- Sim... na volta trazem teiú morto na mochila. Na ida podemos levar laranjas, biscoitos...
- Minha mamadeira...
- Isso mesmo! Enquanto esperamos o teiú, você vai tomando a sua mamadeira.
-Teiú não gosta de mamadeira, não, vovó? – Pergunta, assustado.
- Não, ele é um grande papador de ovos, isto sim!
- Depois você cozinha o teiú?
- Ô, carne de teiú é uma delícia! Branquinha, mais gostosa que carne de galinha! Eu tiro o couro com cuidado e dou pra você pendurar na parede como troféu.
Foi a vez dele ficar admirado e me olhando com aqueles olhos lindos, pestanudos, indagadores:
- Tro..tro... o que, vovó?
- Troféu. É...bem, eu explico: quando a gente caça um bicho, a gente pendura a pele dele na parede, para mostrar o tamanho do bicho que a gente teve coragem de caçar. Isso é troféu. Os caçadores penduram cabeças de tigres, peles de onças, dentes de elefantes...
- Ah! então eu vou pendurar a pele do teiú e vou pendurar também um gafanhoto verde que está mortinho, lá no banheiro. Você acha que eu posso pendurar uma perereca?
- Não, perereca não! Ela é boazinha, porque come moscas e pernilongos. Eu acho bom, mesmo, nós prepararmos a nossa caçada de teiú...
- Vamos agora?
- Enquanto você arruma as nossas coisas, eu vou terminando este meu trabalho. Depois iremos caçar.
- E se aparecer uma girafa, vovó?
- Ah, daí eu digo assim: Dona girafa, quer fazer o favor de colher algumas mangas para nós?
- E ela colhe, vovó?
- Lógico! Não precisa se esforçar, com aquele pescoção...
- Depois a gente pode voltar para casa montado na girafa, não é, vovó?
- Mas que delícia! Eu adoro montar girafas!
Que pena que o leitor não possa ver a cena do menininho de botas, capacete de motoqueiro, a avó de bermudas, botas de borracha, chapéu de explorador e lata-mochila nas costas; ambos de metralhadora e espingarda em punho, cavalgando uma girafa. Esqueci do Vidabá! Gordo, moleirão,seguindo impávido na frente.
Os teiús que se cuidem!
|