Talvez eu tenha dentro de mim essa coisa que cresce sempre e que as pessoas chamam de paixão... Alguns confundem com amor, o que eu acho praticamente um crime. Paixão é, para mim, aquele desejo, aquela vontade que ultrapassa todos os limites do concreto e do abstrato. Extremamente egoísta, a paixão é a necessidade de matar uma vontade única, que às vezes pode se tornar comum nos dois lados ou, simplesmente, uma questão de luxúria desordenada para um deles.
Talvez eu tenha dentro de mim aquele sentimento mais valioso e tão banalizado nos dias atuais. Talvez eu até ame. Acho que me pergunto sempre se te amo. Acho só, não tenho certeza. Deixei de ter certeza de muita coisa há muito tempo.
Talvez eu nem seja tão racional assim, talvez, um dia, você tire essa racionalidade toda de mim. Talvez ela nem saia.
Deixarei de me preocupar com essas coisas, deixarei de me preocupar com muita coisa que ocupou a minha cabeça durante tanto tempo. Sempre tive a certeza de que sabia o que fazer, como fazer e quando fazer em qualquer situação, hoje vejo que nem tudo é tão simples assim.
Talvez eu devesse tratar a vida com uma maior simplicidade e desistir da idéia de que ela pode ser facilmente explicada. Talvez você nem me entenda, mas eu não quero me fazer "entendível", pouco me importa se você entende ou não. E mesmo que eu passe o resto da minha vida trancada dentro de casa escrevendo, ainda seria linda, inteligente e culta porque isso ninguém, mas ninguém mesmo, tira de mim.
Pouco me importa se você me acha linda ou não, eu me acho e isso é o que me importa. Talvez jamais tenha demonstrado acreditar em tal verdade (se é que é verdade), mas tornei dela uma verdade absoluta para mim.
Sinto dentro de mim uma excitação tamanha e escrevo tão densamente que a impressão que tenho é que a caneta vai entrar no papel. Escreveria assim para o resto da minha vida. Passaria o resto de meus dias assim, escrevendo, linda, culta e inteligente, em minha redoma de vidro que ninguém quebra. Mas, mesmo assim, não seria inútil. Dizem que a filosofia e a literatura são frutos do ócio da nobreza de séculos passados. Mesmo historicamente comprovado, não aceito o fato. E quem disse que escrever não é trabalho? Escrevo para mim mesma, de mim mesma ou de qualquer um dos meus personagens que brotam da minha inocente cabeça de menina e isso me alimenta e faz com que não me sinta inútil.
Ontem eu amei e desejei. Cheguei aos limites da minha voluptuosidade contida, foi bom. Mas isso não tem a ver com carne, tem a ver com sentimentos. Não falo de sexo, falo de um desejo, um pedido. Falo de mim.
Conheço mulheres movidas a paixão, outras a emoção e eu sou movida a razão. Talvez eu seja menos feliz do que as outras, talvez eu sofra menos ou, simplesmente, sinta menos. Como se sob o efeito de uma grande anestesia, talvez eu viva menos. Acho que tudo isso é uma grande loucura e o controle sobre a vida, racional ou não, uma grande ilusão.
Talvez eu escreva por ser menos iludida em relação à realidade ou porque tenho necessidade de um mundo a parte. Talvez eu precise de terapia ou, simplesmente, de um beijo seu. Talvez eu precise ser feliz ou, simplesmente, descobrir que já o sou.
Raquel Lima- Janeiro de 2003
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