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Contos-->MORTE NO CIRCO (Cap. 3) -- 03/09/2000 - 18:11 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MORTE NO CIRCO
CAPÍTULO 3

Resumo dos capítulos anteriores: Astor, o trapezista galã do Gran Circo Lunar, foi encontrado morto em seu trayller pela manhã. Entre os muitos suspeitos estão Elvira, a mulher gorila, apaixonada pela vítima; Piroca, o palhaço; Piteira, o dono do circo; Sheila, a engolidora de espadas; Velázquez, o mágico; Zarobe, o outro palhaço e a Mamãe Guta, cozinheira/conselheira e mulher de Zarobe. Elvira decide investigar sozinha e descobre uma espada faltando no baú furado de Velázquez. Veja hoje, enfim, a revelação do mistério: quem matou Astor, o trapezista?

Elvira entrou correndo em sua barraca, o coração batendo rápido. Será que foi ele, o Velazquez? Ele tinha cara de vilão mesmo, com aquele bigodinho ridículo, mas por quê, qual o motivo do crime? Pelo que ela sabia, o que era muito, Astor nunca saiu com Sheila depois que ela se casou com o mágico. E os dois, marido e mulher, davam-se muito bem. Então, por quê? O motivo era muito nebuloso, mas Elvira precisava se concentrar mesmo em apenas um detalhe: encontrar a espada. Encontrando a espada, Elvira sabia que fatalmente encontraria também o criminoso. Será que ela estava pronta para esse encontro? Cogitou pedir ajuda à Mamãe Guta, que sempre parecia saber de tudo, mas desistiu logo. Ela sabia que teria que encontrar o assassino sozinha, pois todos pareciam já estar desconfiando dela. Afinal, era ela a maluca solteirona apaixonada desesperadamente por um trapezista ninfomaníaco. E malucos são capazes de qualquer coisa, até de matar. Pensou em ir até o delegado para contar-lhe sobre a nova pista, mas achou melhor investigar mais um pouco e tentar encontrar a prova definitiva, a espada desaparecida de Velazquez.
Andou por todo o pátio onde estavam instalados os trayllers e as barracas, procurando por uma pista, como um montinho de terra mexida ou algo assim, mas não encontrou nada. Entrou em algumas barracas, como a do Zarobe, que costumava sempre estar aberta para que Mamãe Guta recebesse suas visitas. Gastou o dia todo vasculhando armários de aglomerado desgastados e meio podres, sob colchões imundos dos solteiros do circo, nas cozinhas improvisadas, com suas panelas incrivelmente amassadas e ainda utilizadas, malas, baús, caixas de roupas e fantasias antigas, de outros tempos, do tempo da sua mãe, quando o circo era grandioso e bonito. Elvira estava cansada de procurar, e já nem sabia pelo quê procurava, e, meio tonta, de repente viu-se novamente em frente à porta do ex love trayller, olhando para a fechadura. Empurrou automaticamente a porta e entrou de novo, mas antes de subir a pequena escada pôde notar uma caixa de sapatos sob o armário da cozinha, quase escondida. Entrou, pegou a caixa e abriu. Fotos. Cerca de vinte fotos em preto-e-branco, com gente do circo que ela conhecia e algumas pessoas que não. Foi olhando rapidamente, pois imaginava que seriam fotos de mulheres nuas no trapézio ou na cama elástica, em posições que ela não gostaria de ver. Mas não, eram fotos do pai de Astor, Helmer, que também fora um grande trapezista. Elvira sabia que a mãe de Astor morrera durante o parto, e Helmer morrera devido a um infarto fulminante durante o café da manhã quando Astor tinha uns oito anos. Desde então, fora criado pelos tios, os irmãos de Helmer. O pai brincando com o filho, levantando-o acima da cabeça. Helmer ao lado do Piteira, ali cabeludo. O pequeno Astor balançando no trapézio, devia ter só uns sete anos. De repente, parou numa foto: Helmer estava abraçado com uma mulher, e os dois pareciam bastante íntimos, como um casal. Ficou segurando a foto e olhando por muito tempo, com o coração batendo rápido. Escrito na foto, “Feliz ano novo. Com amor, Mirna – 01/01/1960”. A mulher na foto era sua mãe, Mirna, a mulher vampira.
“Isso foi quase um ano antes de eu nascer”. Olhou para a foto novamente e pensou “Meu Deus, será?... ”. Correu desesperada para sua barraca, chorando e quase vomitando. Será que passara toda a vida apaixonada por seu irmão? E ele provavelmente sabia, e por isso a evitava! Entrou afoita na barraca e foi direto para o velho baú onde guardava todas as coisas de sua mãe. Precisava encontrar algo que confirmasse as suas suspeitas, uma foto, um cartão, uma jóia com dedicatória... Ajoelhou-se na frente do baú, pegou a pequena chave que carregava sempre num colar e abriu. Elvira sentiu como se a barraca estivesse no meio de um furioso mar, e ela jogada de um lado para o outro. Vomitou ao lado do baú, onde apoiou sua cabeça, com as mãos nas laterais do baú, onde jazia no fundo o último objeto que esperava encontrar: uma espada ensangüentada.
Tudo veio na sua cabeça tão rápido que Elvira não conseguiu se mover por horas, como se um enorme peso gigante a tivesse esmagado. Num segundo, assistiu tudo claramente, como numa enorme tela de cinema. Após transformar-se, naquela noite, um gorila abriu a jaula e como ninguém o observava, correu para os fundos dos bastidores, não sem antes surrupiar uma das espadas do truque do baú furado do Velazquez, que ainda estavam no corredor e já tinham sido utilizadas. Pelas sombras da noite, viu um gorila arfando por trás das barracas, correndo em direção do trayller de Astor, arrombando a porta, avançando rapidamente e, num golpe certeiro, enterrando aquela espada nas costas do pobre trapezista, que não teve tempo nem de reagir, pois dormia profundamente, de bruços. Nove vezes o gorila enterrou a espada nas costas do amado e irmão de Elvira, que agora, ali na barraca, lembrava de tudo, chorando e gritando “Não, não!”. O gorila saiu do trayller rapidamente, num salto, e correu de volta aos bastidores, pelo escuro, com uma espada ensangüentada nas mãos. Ia recoloca-la no baú, mas Velazquez já havia guardado seu equipamento, então correu para uma barraca conhecida e a guardou dentro do velho baú de Mirna, a mulher vampira. Depois, voltou para a jaula e o gorila se foi. Calmamente, Elvira saiu da jaula e voltou para o picadeiro, para receber os aplausos finais, sem lembrar-se de absolutamente nada do assassinato cometido pela incontrolável besta raivosa.
Elvira, em pânico ao descobrir o horror da convivência insana de sua alma com a de um monstro, que matou o próprio irmão, não encontra outra saída senão subir no trapézio, amarrar uma corda no pescoço, a outra ponta na barra e saltar para seu encontro com o resto de sua eternidade.


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