Foi coisa de paixão. A moça morreu naquele dia. Revólver. Tiro na cabeça se eu não me engano.
A empresa do pai tinha o nome de Guajuvira. Uma palavra indígena lá dos campos do Rio Grande. Nunca tentei saber o que significava.
Achei estranho que a moça morresse de amor. Todos acharam o fim do mundo.
Na pequena cidade foi um grande impacto. Jovem, apenas 14 anos.
Não entendi por que alguém faria uma coisa daquelas. Por amor? Talvez, pois nunca tinha amado alguém.
Curioso é o tempo, que observa a mudança dos homens e conceitos. Um dia tinha 14 anos e achei que já amava alguém. Antes que pudesse dizer algo encontrei-a de abraços e beijos com outro. Entendi a palavra trouxa antes de amor.
Claro que também não perdi mais tempo com ela. Depois surgiram vários amores, em escalas diferentes de sentidos.
Foi uma delas que passou rapidamente com seu novo automóvel por aquela estrada de pó saliente na Semana Farroupilha. Eu estava sentado num banco sorvendo um mate com alguns amigos.
Passou e deixou a poeira para ser compartilhada, como os fragmentos de sonhos que alimentei durante algumas semanas.
Amor, não, exatamente. Mas tinha aqueles sintomas bestas de doer o peito, sonhar, imaginar uma viagem para algum lugar depois da curva que os eucaliptos da fazenda escondiam.
O carro novo era fruto de um amor novo. Dela. Trocava de amores com frequência, numa indelével busca do amor perfeito.
Foi perfeita a curva que fez em alta velocidade. Como os planos preciosamente executados.
A única coisa que não entendi foi o sentimento vazio ao ler um adesivo de propaganda no vidro traseiro do veículo. Guajuvira.
Já tinha aprendido a entender o amor. Entendi a mudança que ocorre na cabeça dela. Foi embora com o mistério da Guajuvira.
Matei o tempo tomando um mate. A morte dos sentimentos que o tempo leva...bem...deve ser Guajuvira mesmo.