UMA PÁGINA PARA LETÍCIA
Minha mão resvalava lasciva pela tua pele molhada e um raio de lua frio-prateado desenhava tuas feições contra a parede, que já não era branca. Caminhava a minha boca para o motivo final de minha paixão, eram delirantes os teus suspiros e tua língua fustigava sem cessar a outra língua que não encontravas, ou que imaginavas existir em teu passado ou futuro. Era isso. Um grito mordido e úmido, a aflição total dos pulmões procurando ar, tentando o alívio imediato para tanto consumo de energia. Os músculos tensos e em ebulição constante, as idéias confusas, os pensamentos explodindo, brotando como lava quente do fundo adormecido de um vulcão enlouquecido. Era isso, Letícia. Um murmúrio mastigado em tantos idiomas, tantas palavras que escapavam de teus lábios manchados. Era isso, tuas pernas separadas, tua alma de menina aberta, teu corpo de mulher esperando a força imaginada, o complemento final, a parte que vislumbraste em algum lugar do espaço, antes de ser, e que lamentavelmente te faltava. Era isso, Letícia, simplesmente sexo, ansiedades, tórridas sensações devorando cada uma de nossas células, até tirar-nos a razão, a cordura, as esperanças.; Simplesmente sexo.
( O pai de Letícia, guardião raivoso da dignidade e virgindade de sua filha, encontrou essa página manuscrita entre as coisas de sua filha adorada. E já não teve dúvidas. Desde então, em nada acredita e procura desesperadamente aquele amaldiçoado que arruinou seu mais precioso tesouro e a razão da sua vida. )
|