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Cartas-->Ecce Vitas: Carta a Sofiazinha -- 17/01/2003 - 20:44 (Claudio Bertode) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dizem que a vida é muito curta, Sofiazinha! Acho que é pouca mesmo...
20 anos?
30 anos?
50 anos?
70 anos?
Mesmo que 100 anos de existÊncia e ainda seria só uma fração de tempo...
Por isso, mesmo que de forma inconsciente, inventamos possibilidades de muitas impossibilidades acontecerem...
Calcamos, com muita honestidade, muita confiança, muita fé...todas nossas esperanças no invisível...

Mesmo as pessoas que duvidam da vida...mesmo as que não viveram, um dia se quer, nutrem esperanças e confiança íntima em uma possível vida extraterrena, ao lado de seres invisíveis e prometedores de paraísos aos indigentes, pobres e miseráveis... Falo dos miseráveis não materialmente, mas os que não possuem riqueza humana: capacidade de entender que o melhor é viver...fazer as pessoas a nossa volta um pouquinho mais felizes.

A coisa mais bonita que já ouvi, diria mesmo a mais poética de todas, ouvi de tua boca...Tu me dissestes da possibilidade de irmos melhorando a cada oportunidade, na face da terra...melhorando e melhorando até sermos promovidos a outro estágio e até que atingíssemos a perfeição a semelhança divina.
Eu te confesso que tempos atrás eu não seria capaz de perceber a beleza e a poeticidade deste tipo de raciocínio perante o drama humano da vida e da morte...Te confesso minha intolerância frente às crenças dos outros seres humanos...Ainda, te diria que não existe outra coisa pior que a maldita intolerância...

Somos capazes de aceitar outras manifestações da crença: já conheci judias e judeus que namoraram cristãos, umbandistas, budistas, etcétera...casaram-se e tiveram uma próspera geração...olhe que não estou a falar dos ecumênicos...Falo do ser comum, que com sua crença é capaz de aceitar como digna...é isso, aceitar como digna outra forma de manifestação da crença que não seja a dele...

Agora que já falamos da possibilidade de vivermos em um país com crenças tão diversas: judeus, cristãos (católicos, protestantes, espíritas, etc...), budistas, islâmicos e outros muitos mais... Falemos da possibilidade de vencermos nossa intolerância, falemos da possibilidade de superarmos nossa incapacidade de percebermos as razões que levam as pessoas a verem o mundo com outros olhos, com outras perspectivas...Acredita-se que isso seja possível e acho bem provável...

Mas por último, analisemos a descrença...acima, por mais bonito que foi nosso raciocínio...por mais poético...infeliz ou felizmente existem os céticos, os deístas, agnósticos, os comunistas, e os mais radicais de todos: o ateu ou como costumam dizer de nossa geração, os Niilistas convictos...

Lingüisticamente, todas as palavras de derivação regular da língua grega ou de origem grega, se acrescidas de um prefixo a- implicará uma negação da semântica contida nesta palavra...Ex.: A- morfo, A-céfalo, A-teos, etc... Descobriu onde está o erro desta afirmativa? Pois bem, veja a palavra " amorfo", não se trata aqui de uma negação da forma, mas sim de uma ausência fórmica. Do mesmo modo " acéfalo" não é a negação da cabeça, e sim, a ausência deste membro ou a ausência de um comandante, isso se entendermos cabeça como o aquele que lidera... Ainda do mesmo fato semântico concluímos que "ateu" não é a negação da existência de Deus, mas sim, uma busca de viver na ausência desta entidade mito-metafísica...

Tentar descobrir até onde o ateu acredita ou não na existência de um ser invisível, paternalista, tirânico e intolerante com o dessemelhante é o mesmo que o que se diz ateu passar a vida toda tentando provar que a entidade mito-metafíca, tirânica, paternalista, intolerante (deus) não existe...Por todas as guerras, por todos os que foram queimados durante as fogueiras da inquisição, por todos os palestinos mortos pelos israelenses, por todas as pessoas que morrem de fome todos os dias, enquanto o nome desta entidade mito-metafísica e mito-retórica é usado para iludir, tiranizar, escravizar , por tudo isso e por muito mais...não caberia em minhas reflexões ou afirmações a existência ou não desta entidade: acho mesmo que por tudo isso ela já tenha ganhado existência...

Não farei de minha vida uma vida de negações de coisas que já estão no mundo muito antes de mim...mas nunca deixarei de dar meu testemunho em favor da vida... é nisso que acredito: na tão curta e tão dura vida...
Se ela e tão curta, deveríamos fazer o possível e o impossível para sermos pessoas melhores... e para sermos felizes ao lado das pessoas que nos amam....Desperdiçamos demais a vida com coisas tristes...
Sabe, querida Sofiazinha, quero que saiba que estas palavras saíram do fundo de meu coração e não tiveram nenhum intuito de desrespeitar tuas crenças...aprendi a respeitar muito a crença das pessoas...caso contrário eu não teria o direito de tentar afirmar de uma vez por todas as minhas descrenças no invisível. Gostaria de saber de teu respeito em relação a tudo isso... Carpe diem!!!



Claudio Bertode
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