Amigo de um Amigo Meu ( Tiago Xavier - 03/01/2003)
Um dia destes eu estava na porta do teatro, esperando o iniciar da peça, quando um casal começou a discutir. Eles começaram a conversar em voz baixa. Porém, o tom de voz era ameaçador. Gradativamente, ambos começaram a falar cada vez mais alto, até o momento em que a discussão virou gritaria, a ponto do público pensar que a peça teatral havia começado ali mesmo. Ela, num movimento rápido, virou-lhe um tapa no rosto e correu para o interior do teatro, que ficou lotado depois daquele incidente. Os que passavam por ali achavam que era um encenação de dois atores, e os ingressos foram vendidos rapidamente. O nome da peça encenada era A Vingança de Unhas Negras, uma verdadeira porcaria.
Resumia-se em uma briga entre duas irmãs pela herança de sua avó recém falecida: um pênis feito em ouro maciço que valia uma boa quantia em dinheiro. Uma das irmãs se vestia toda de preto, toda no estilo dark. A outra era uma verdadeira patricinha que ao ganhar no tribunal a posse do falo de ouro, recebeu juras de vingança de sua irmã. No final da peça, a dark mata a irmã cravando suas unhas pintadas de preto em seus olhos verdes, causando uma grave hemorragia. Uma peça que seria muito interessante, se não fosse mal escrita. O final foi extremamente ridículo. O que realmente valeu a pena ter saído de casa e me deslocado até o teatro foi a briga do casal que houve antes da peça.
Ao contar este acontecimento a um amigo, ele disse-me que um amigo dele estava numa destas festa Octoberfest e viu um casal discutindo aos berros. A discussão cessou quando a mulher, ao dar um murro dos bem dados no rapaz e nocauteá-lo, começou a chorar e sair correndo. Falei a ele que de uma mulher destas eu quero distància.
Como é de praxe, fiquei aqui enrolando para poder chegar ao assunto principal desta crónica. Se preferir, vá ler outras coisas mais importantes e não perca tempo com minhas palavras que não merecem consideração. As brigas dos casais narradas acima estão chegando a seu conhecimento através de minha escrita. A primeira delas eu presenciei. A outra foi vista por um amigo de um amigo meu.
Esse amigo do meu amigo viu o fato, relatou para meu amigo, que traspassou a minha pessoa. Isso que faz com que o fato seja distorcido da verdade. As pessoas dão versões diferentes aos acontecimentos. Por isso, o tipo de história que acontece com o amigo de uma prima da vizinha do meu cachorro não tem muita credibilidade.
Quando se quer que alguém acredite no que você diz, diga que aconteceu com você. Ninguém quer saber do pé quebrado por um tombo na lavanderia da amiga da sua prima de segundo grau. Diga que você quebrou o pé na sua casa, na sua lavanderia, a dois anos.
Geralmente histórias vergonhosas são relatadas como se acontecessem com amigos de amigos. Essas, que na verdade acontecem com a própria pessoa que conta o caso, são logo desmascaradas. Quando se diz que o incidente é de um amigo de um amigo, e este é muito vergonhoso, está estampado na cara que isso aconteceu com você.
Como uma vez em que um amigo do meu tio entrou na embaixada americana dançando pelado e cantando "Eu não sou cachorro não". Foi preso e até hoje tem vergonha de ficar pelado até na frente da sua esposa... .
