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cronicas-->O caipira -- 25/07/2000 - 19:32 (Mário Martinez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Era um velho como tantos outros. Nos seus quase setenta anos levava uma vida de descanso e espera contínua. Sentava diariamente - logo após almoçar o seu prato de arroz, feijão, carne e farinha - no banco de madeira estrategicamente fincado em frente à sua casa.
Ali passava a tarde olhando e trocando conversa com quem passasse. Falava de roça, pescarias, caçadas, assombração e sentia saudades do governo Vargas. "Getulio!" , exclamava a cada cinco minutos.
Em sua vida pacata nunca desejou coisa grande. O mar, conhecia por fotografia e pelos jornais que chegavam em sua casa como embrulho das compras. Cidade grande o assustava e tudo o que cheirasse modernidade lhe dava asco. Seu mundo era aquele vilarejo sem nome e estradas, perdido no interior de um município inexpressivo.
A roça, arroz, feijão, algodão e café resumiam sua vida e seu assunto. Homem forte na juventude, administrou fazendas e perdeu a conta de quantas carroças lotou com o que produziu. Mas nunca foi patrão ou mandou em alguém. "Nasci pra ser mandado".
Tinha seus patrões como pais, alguns como santos. A outros, devia favores que julgava impossíveis de pagar.
Rezava pouco, não gostava de padres. Ia aos terços pra comer os quitutes geralmente oferecidos no final da reza. Bebia de quando em vez. Cachaça, não. Só vinho, quentão ou "coisa mais fraca". A morte não o assustava. "É lugar certo."
Fumar, fumava. Palheiro, com fumo de rolo que ele mesmo plantava e curtia no fundo do quintal.
Mulher, além da sua, teve mais três, segredo que só revelou depois de viúvo. Filhos, uns quatro. "Pode até ser mais".
Getúlio!
Às vezes algum carroceiro parava para tirar um dedo de prosa. Resmungavam contra o iminente fim do mundo e pediam perdão à Deus. "O mundo tá mudado".
Vociferavam contra o governo.
"Nem Getúlio!"
"Nem Getúlio."
No rádio de pilha a música de Tonico e Tinoco fazia seus olhos lacrimejarem. O choro dissimulado não era pela música, mas por sentir que a sua espécie ia se queimando aos poucos, como uma fogueira de São João.

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